Líder nas pesquisas de intenção de voto para o governo do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB-MA) esconde o sobrenome que dominou a política do estado nos últimos 45 anos. Ela é apenas Roseana — não pronuncia também o sobrenome Murad, de seu marido, flagrado ao lado dela no escândalo da Lunus em 2002.
A candidata contratou o publicitário Duda Mendonça, tem a campanha mais cara ao governo e conta, em todas as peças da propaganda eleitoral, com a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, pedindo votos para ela e os dois senadores da legenda, Edison Lobão e João Alberto, do PMDB.
A presença de Sarney na campanha da filha limita-se a reuniões reservadas com aliados políticos. "Não posso desprezar a experiência que ele tem. Mas eu tenho um eleitorado fiel que conhece o meu trabalho", alegou. Roseana também quer manter distante do Maranhão escândalos nacionais que envolvem o nome da família, como a Operação Boi Barrica da Polícia Federal, que investiga o irmão, Fernando Sarney, acusado de fazer caixa dois na campanha da irmã em 2006. "Rezo para que o Fernando não tenha nada a ver com esse caso. Mas não posso responder pelos problemas de meu irmão", declarou.
O clã comanda o estado de maneira quase ininterrupta desde 1965. À exceção de Jackson Lago (PDT), eleito em 2006, todos os demais governadores tiveram o aval dos Sarney, embora alguns tenham feito um rompimento posterior. O mais evidente foi José Reinaldo Tavares (PSB), eleito governador em 2002 após ser vice de Roseana. No cargo, ele rompeu com a família e usou todo a máquina política para eleger Lago. Hoje, concorre ao Senado pelo PSB, aparecendo em terceiro lugar nas pesquisas.
Jackson Lago foi afastado do poder em abril de 2009, por uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em julgamento de denúncias da campanha eleitoral anterior. Está novamente ameaçado pelo mesmo tribunal, que julgará sua candidatura com base na Lei da Ficha Limpa. "É a mesma luta que travo há 40 anos. Meus inimigos são os mesmos — e a minha disposição, também", afirmou.
Lago, contudo, luta contra a baixa arrecadação da campanha e a falta de apoio político no estado. Em 2008, quando estava no governo, seu grupo político elegeu dois terços dos prefeitos de um estado com 217 municípios. O candidato de Roseana à Prefeitura de São Luís, o deputado Gastão Vieira (PMDB), teve menos de 25% das intenções de voto.
Roseana conseguiu retomar o poder no TSE e o quadro mudou. Quando muito, Lago conta hoje com dez prefeitos a apoiá-lo. Os demais se aliaram ao governo estadual, em busca de convênios e prestígio político. "Voaram com rapidez, como pássaros em busca de novos campos de alpiste".
Jackson aparece na pesquisa Ibope divulgada no sábado (18) com 21% das intenções de voto. Ainda é forte no interior, especialmente em cidades onde deixou alguma marca importante, como Presidente Dutra, no qual inaugurou um grande hospital público. Mas na capital, São Luis, tem apenas 13% das intenções de voto, prejudicado pela fraca administração do prefeito João Castelo (PSDB), a quem apoiou em 2008.
Apesar do apoio do PSDB local, o candidato do partido à Presidência, José Serra, apareceu apenas uma vez ao lado de Jackson no Maranhão e não faz parte do material de campanha do pedetista. O que é considerado um erro por alguns aliados, pois poderia gerar votos na classe média maranhense que mora no interior do estado e tem aversão completa ao PT por sua parceria histórica com o MST.
Mas a baixa mais expressiva da oposição maranhense foi justamente o PT. O diretório nacional do partido impôs o apoio a Roseana e não a Flávio Dino (PCdoB), que teria chances com o apoio do partido do presidente Lula. Roseana deu ao partido três secretarias — Educação, Ação Social e Trabalho — e ainda aceitou o vice indicado, Washington Luis, que, de tão inexpressivo, sequer vai ao estado, permanecendo durante toda a campanha em Fortaleza.
"A intervenção no Rio foi para apoiar o Brizola. No Ceará, para uma aliança com o PCdoB. Aqui, tivemos que abraçar um inimigo de décadas", reclamou o deputado Domingos Dutra (PT), isolado na tarefa de criticar a família Sarney.
Empatado com Jackson na última pesquisa do Ibope, Flávio Dino foi o que mais sofreu com a adesão do PT à campanha de Roseana. Perdeu um tempo expressivo no horário eleitoral e não pode usar a imagem de Dilma Rousseff na propaganda. Tem 30% das intenções de voto na capital, mas não decola no interior — onde o discurso antisarney tem pouco efeito junto a um eleitorado dependente dos programas sociais e dos convênios oferecidos pelos prefeitos alinhados ao clã Sarney.
Do Valor Econômico