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Porta bandeira e mestre sala da Turma do Quinto |
Wesley Péricles (*) Em recente artigo, procurei analisar e trazer a público os motivos que levaram a Favela do Samba a se tornar a grande campeã do carnaval maranhense, a partir da década de 1990. Acabava ali a hegemonia das duas grandes escolas que dominavam o carnaval até então. No caso, a Flor do Samba e a Turma do Quinto. Ao elencar as virtudes da Favela, uma indagação surgiu em nosso horizonte: o que teria acontecido com aquelas agremiações? Que situações aconteceram para que entrassem em processo de franca decadência, chegando inclusive a não participarem de vários desfiles consecutivos. Tentarei responder a este questionamento, em parte, pois não detenho informações aprofundadas a respeito da Escola do Desterro.
Em compensação, conheço, e bem, a escola da Madre Deus. Nasci no bairro e carrego o “DNA quintista”, integrando uma família tradicional dentro da escola. Nela, cheguei a ocupar alguns cargos em diretorias passadas. Portanto, falo com conhecimento de causa sobre os motivos que levaram a Turma do Quinto ao ocaso dos últimos anos.
A Escola paga preço alto até hoje pela política implementada em meados dos anos 1990, que excluiu o Quinto dos concursos, fazendo-o desfilar em ridícula proposta de arrastão, ou seja, nada de alegorias, fantasias, passistas ou algo que lembrasse uma escola de samba, e sim um bloco de sujos e bêbados na avenida. Tais arrastões, além de prejudicarem os desfiles da Escola, acabaram contribuindo para que a agremiação perdesse torcedores por toda a cidade. Pior: os perdeu principalmente dentro da própria comunidade. Será que os gênios criadores dessa aberração estética não perceberam que tentar transformar uma escola vitoriosa em bloco de sujo, seria prejudicial não somente para o Quinto, mas também para toda a Madre Deus? Ou será que havia interesses escusos por trás desta transformação? O fechamento da sede da escola também contribuiu de forma intensa para aumentar os problemas da Escola. Aquela que não movimenta a sua sede acaba perdendo sua essência. É na quadra que os diversos segmentos que a compõe se encontram se confraternizam e conversam. Enfim, mantém a agremiação viva.
Lamentavelmente, a Turma do Quinto passa também por uma crise de identidade. Os enredos irreverentes e criativos que sempre marcaram sua trajetória foram substituídos por enredos, diríamos, tradicionais que nunca foram à linha da escola. Quem teve o prazer de conhecer enredos como Alcântaratlântida, Quintostituinte e Ali babão e o Sete Ladrão não pode se conformar com Difusora, Caixinha de segredos e outras bobagens que foram apresentadas nos últimos anos.
Não houve no Quinto renovação de quadros. Dirigentes que comandaram a escola no apogeu seguiram seus caminhos e a deixaram de lado; outros, que poderiam facilmente assumir suas responsabilidades, preferem usar os seus inocentes epígonos para fugirem dos seus deveres. A Turma do Quinto sofre de um perigoso complexo de superioridade que, infelizmente, parece ser também de toda a Madre Deus. Enquanto a concorrente se abre para o mundo, o Quinto se fecha em copas, com decisões esdrúxulas, como acabar com seu concurso de samba enredo, ou, pior, fazer concurso somente entre compositores “madredivinos”, como se fôssemos os escolhidos por Deus para sermos os maiores compositores da terra de João do Vale.
Por fim, e não menos importante, ocorre dentro da Escola uma tremenda indisciplina. A guerra de egos ali existente só atrapalha o desenvolvimento do Quinto. Fazer uma autocrítica é indispensável. Por que não chamar todos os segmentos da comunidade para dentro da escola, sem ressentimentos? Lembremos que carnavalescos vaidosos vem e vão e que somente a comunidade unida poderá salvar o Quinto. Caso isso não aconteça, fatalmente sucumbiremos. Sinceramente, queremos ver a Turma do Quinto transformada numa Portela maranhense, vivendo apenas do passado grandioso?
Avante TQ! Os teus verdadeiros guerreiros continuam vivos. (*) Graduado em História, professor da rede pública estadual e municipal, pesquisador e estudioso do carnaval maranhense e do Brasil