"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da jia. E muito mais feio que um hipopótamo insone". É a "Bienal", canção de Zeca Baleiro. A 29ª Bienal de São Paulo não remete com precisão à letra da composição do maranhense.
A versão deste ano da bienal está assentada na impossibilidade da separação entre arte e política. Em Sobre arte e política, Max e Engels teorizam que as ideias não levam além do antigo estado de ideias. E só. Na prática a bienal comprova o pensamento dos teóricos da dialética materialista.
Obra do Terreiro "A pele do invisível" |
A versão deste ano da bienal está assentada na impossibilidade da separação entre arte e política. Em Sobre arte e política, Max e Engels teorizam que as ideias não levam além do antigo estado de ideias. E só. Na prática a bienal comprova o pensamento dos teóricos da dialética materialista.
Há estranhezas óbvias, mas, de certa forma, a arte está mais explícita em seu sentido tradicional nesta versão da bienal. À exceção de Nuno Ramos, o artista que levou urubus para agourar o maior evento de artes plásticas da América Latina, não há fissuras radicais de parâmetros estéticos nesta bienal.
Fotografia no Terreiro "Eu Sou a Rua" |
Afora o debate sobre as obras, Nuno Ramos, autor da obra “Bandeira Branca” (a dos urubus que acabou envolvendo a justiça e fagulhou debates), inocola veneno na veia das leis de incentivo à cultura e da política. Sobretudo a Lei Rounet, que, segundo ele, contribui sobremaneira para o sucesso de instituições como Santander, Oi e outras de capital importância para o projeto do Brasil desenvolvimentista.
“Devo muito a elas, mas é uma pena que instituições como o Masp e a Bienal tenham ficado à míngua. Estão um pouco melhor agora. O único modo de as obras aparecerem é tornando fortes as instituições. No Brasil, você prova que o Sarney é corrupto e ele sai ileso. Há um descolamento entre a consciência pública e a realidade institucional, que é nova. Talvez a política mais rica hoje seja mesmo a reconstituição das instituições", teoriza o artista.
Nos terreiros, espaços divisórios da grande exposição do Parque Ibirapuera, não há confrontos que levem além do confronto. Nem mesmo Kboco, o artista que teve a obra pixada este ano, quebra paradigmas fora do espaço delimitado do evento.
Entrada do Terreiro "O outro, o mesmo" |
”Há sempre um copo de mar para um homem navegar”, verseja Jorge de Lima em “Invenção de Orfeu”, poeta e poema inspiradores da 29ª Bienal de São Paulo. Mais além do pensamento poético está o pragmatismo da curadoria da Fundação Bienal , um organismo que tem como conselheiro de honra o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira.
Ex-dirigente do Banco Santos, fraudulentamente falido, Ferreira está preso por crime contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro, crime organizado e formação de quadrilha. Colecionador de artes, amigo da escritora e ativista Pagu (Patrícia Galvão) e do maldito autor de teatro Plínio Marcos, ambos falecidos, e do presidente do Senado José Sarney, Cid Ferreira está condenado a 21 anos de prisão. Na impossibilidade de separar política e arte, o ex-banqueiro permanece honrosamente no conselho da Bienal.
Portão do pavilhão Ciccilio Matarazzo |
É possível que aí resida o poder da arte de sanear a política. Isso a 29ª Bienal quer provar. Não consegue, porém. Desde o portão de entrada se comprova o descompasso entre querer e poder.
Num domingo de sol e calor no Parque do Ibirapuera, a indiferença do público aos acordes de uma sanfona cafona até a alma, tocada por um artista de rua, talvez seja pela expectativa do que virá após o baculejo nas bolsas e sacolas do visitantes. Afinal, novamente, com exceção de Kboco, dentro do pavilhão fervilha a arte. Impossível seria separar arte e política. Não é o que ocorre na realidade.
Num domingo de sol e calor no Parque do Ibirapuera, a indiferença do público aos acordes de uma sanfona cafona até a alma, tocada por um artista de rua, talvez seja pela expectativa do que virá após o baculejo nas bolsas e sacolas do visitantes. Afinal, novamente, com exceção de Kboco, dentro do pavilhão fervilha a arte. Impossível seria separar arte e política. Não é o que ocorre na realidade.
Na visita à 29ª Bienal ainda é possível flagrar a arte em suas multiformas contemporâneas. Embora as imagens digitais na tela do computador jamais provoquem a sensação do olhar, em tempos de interatividade online eis aí o possível. No mais, em tempos de assertivas correto é afirmar que a cultura é regra, enquanto que arte é exceção, até mesmo na Bienal.Quanto a política, não há regras, muito menos exceção. Tudo é possível.