Apenas
11,8% dos brasileiros acreditam que suas famílias têm origem africana. A
maioria, 43,5%, acredita que sua origem familiar é europeia. Os números constam
em pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
IBGE, realizada em cinco estados e no Distrito Federal. O Maranhão não está no
mapa dessa pesquisa.
Corrobora com essa estatística o advogado, jornalista,
professor universitário da UFMA (arena de preconceito racial denunciado recentemente) e membro da Academia Maranhense de Letras José Carlos
Souza Silva, no texto “São Luís é de todos” (qualquer semelhança com o slogan
da era Castelo pode ser mera coincidência”) publicado na edição deste domingo
em O Estado do Maranhão, jornal fundado por José Sarney e Bandeira Tribuzzi.
“Em 1612 São Luís, Capital do Estado do
Maranhão, foi fundada por franceses. Foi invadida por holandeses, mas, na
realidade, na sua amplitude, foi construída pelos portugueses”, constata o
imortal para tecer um texto ufanista, baseado numa visão estrábica de nossa ancestralidade,
no qual razão e lógica são evocadas para então superá-las.
Nesse mosaico de porcelana, José Carlos
Souza Silva ignora etnias e nacionalidades que constituem a base da sociedade
da Ilha do Maranhão, quais sejam: negros, índios e africanos.
Mais adiante Silva conclui de per si que:“Nós,
maranhenses, temos, sim, vínculos fortes com franceses, holandeses e
portugueses. De todos eles recebemos muita força no sangue, nas ações, nas
omissões, na luta permanente no trabalho e nos estudos, buscando sempre o
melhor na vida.”
A história plasma que nas primeiras décadas
do século XVII, quando justamente estava sendo fundada a ilha que em 2012
completará 400 anos, proliferaram as companhias européias de comércio cuja
mercadoria de primeira era os negros aprisionados na África.
O tráfico de escravos e sua conseqüente escravidão
em solo brasileiro abençoada pelo Papa Nicolau impulsionou a economia colonial
nas Américas, a do Maranhão não estava excluída desse rol. “O contingente negro
é um dos mais expressivos na população maranhenses atingindo cerca de 70% dos
habitantes”, sintetiza o professor Sérgio Ferretti no trabalho “A contribuição
do negro na sociedade maranhense”, apresentado em Mesa Redonda no Curso de
Letras da UFMA em outubro de 2008.
A consciência da formação da sociedade
brasileira nos levou a conquistas inarredáveis como o artigo 68 da Constituição
da República Federativa do Brasil que reconhece as comunidades remanescentes de
quilombos.
Até 1755, quando passou a vigorar as leis
pombalinas, a província do Maranhão possuía uma população diferenciada do resto
do país “que se caracterizava por uma maioria de índios, face a um reduzido
número de colonos brancos, destacando-se uma quantidade significativa de
missionários” *. A sobrevivência dessa etnia ainda reluta com a colonização
mascarada pelo legalismo.
O imortal maranhense ratifica a
identificação que os brasileiros têm sobre sua raça. Ainda segundo o IBGE, enquanto
49 % se declaram da raça branca, os morenos, pardos, negros e morenos claros
somam 44,5%. Apenas 0,4% se identificam como indígena.
São essas razões que a lógica de José
Carlos Sousa e Silva subverte no texto primoroso para inflar sentimentos ufanos
nos incautos.
* “A política
indigenista no Maranhão provincial”, Coelho, Elizabeth Maria Beserra (Sioge –
1990)
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