28 de abr. de 2011

No claudiohumberto.com.br

PODER SEM PUDOR
QUESTÃO DE FÉ
José Sarney presidia o Senado, no governo FHC, quando uma jornalista contou que o então presidente FHC afirmara no exterior que Deus havia sido bom com o maranhense, por lhe dar mais um ano de mandato quando ele era presidente. Sarney reagiu com fina ironia, aludindo ao ateísmo militante de FHC:
– De fato, Deus é generoso com quem acredita nele...

400 anos de São Luís, 40 de Sarney, 8 ou 3 milhões para Beija-Flor:números e realidade por trás deles

Eugênio Araújo (*)
    Mal terminou o carnaval 2011 e já se fala no de 2012 por conta da celebração do quarto centenário da cidade de São Luís, escolhida como enredo da tão afamada quanto suspeita Beija-Flor de Nilópolis, do Rio de Janeiro. Ouve-se discussões acerca do valor da cota de patrocínio do governo do estado para a escola, se de 8 ou de 3 milhões de reais, formam-se grupos contra e a favor, e grupos de artistas e produtores culturais para acompanhar o processo. Como especialista da área, gostaria de dar minha contribuição ao debate e convidar o leitor a algumas reflexões.
     Já sabemos que a cidade de São Luís chegará capenga aos seus 400 anos: envelhecida antes do tempo, corroída pelos transtornos das metrópoles (mesmo sem nunca ter sido uma), padecendo dos males dos aglomerados subdesenvolvidos: com favelas pululando e crescendo a cada dia sem esgoto, sem água encanada, sem vias transitáveis, sem iluminação e esquemas de segurança e saúde públicas que funcionem a contento. Não haverá o que comemorar e muito dessa dívida, deve-se ao grupo político que domina o estado há mais de 40 anos, a família Sarney e seus sustentáculos, que incluem artistas e produtores culturais.
    Os Sarney dizem já ter feito muito pelo Maranhão, mas a capital do estado não é uma prova disso. Aqui, mesmo aquelas estratégias que deveriam contribuir para melhoria deram errado. A titulação da cidade como “Patrimônio Mundial” parece não ter surtido nenhum efeito positivo: o centro histórico de São Luís nunca esteve tão decadente, com casarões e casinhas abandonados, ruindo sem qualquer atenção dos proprietários e do poder público; as ruas são um circuito de obstáculos para os carros, as calçadas para os pedestres; as praças estão desfiguradas e tomadas pelo comércio informal, tudo cheira à depressão. Andar pelo centro de São Luís é uma experiência difícil e triste, sobretudo para quem o conheceu nas décadas de 1970 e 80.
    Mas o tempo não pára. As classes médias sempre abandonam os centros das cidades quando se abrem novas áreas nobres de moradia. Em São Luís, isso se deu com os bairros praieiros, sobretudo depois da abertura da Avenida Litorânea. Mas não é só isso: a legislação coercitiva e os preços das reformas inibiram os particulares de cuidarem de suas próprias casas no centro de São Luís depois dos processos de tombamento – no plural porque foram três: o federal, o estadual e o municipal, abrangendo praticamente toda área central antiga e moderna da capital, e restringindo o poder de manipulação do proprietário sobre seu próprio imóvel. Não se podem abrir garagens nem modernizar os interiores, tudo isso é crime aos olhos do IPHAN. Por conta disso a classe média abandonou o centro de São Luís, mais que em outras cidades. Nos últimos 20 anos São Luís favelizou-se, arruinou-se e enfeiou-se sob os olhos guardiãs do IPHAN. Que política de conservação é essa cujos resultados são exatamente contrários aos que ela se propõe?
    Mas com certeza não é dessa São Luís que a Beija-Flor vai falar na avenida. Ela vai mostrar uma São Luís histórica idealizada, uma São Luís turística e repleta de atrações folclóricas e gastronômicas, uma São Luís onde tudo vai bem. É conveniente para isso que ela se associe ao grupo político que sustenta esse discurso, o grupo Sarney, que sempre divulgou que o Maranhão mudou para melhor a partir da sua atuação. O desfile da Beija-Flor vai ser uma farsa financiada pelo poder público e orquestrada pelos especialistas em farsas no Maranhão – é preciso mais uma vez fazer o Brasil acreditar que o Maranhão vai bem e que a capital é o melhor exemplo disso. Vamos patrocinar uma grande mentira!
    Lá se vão 3 ou 8 milhões para Rio! – um dinheiro mal investido num enredo tipo “cartão postal” que tem poucas chances de ganhar alguma coisa: todas as escolas cariocas que tem feito a opção de homenagear cidades, contando com patrocínio de prefeituras e governos de estado tem se dado mal. E São Luís não deve se achar especial por ser homenageada por uma escola que tem seu nome freqüentemente associado ao crime organizado e à corrupção, inclusive com a manipulação dos resultados oficiais dos desfiles. Há muito tempo a Beija-Flor vem sendo investigada pela polícia. E mais: ela não precisa do nosso dinheiro.
    O montante total que uma escola do Grupo Especial carioca recebe anualmente passa dos 5 milhões de reais – isso é mais que suficiente para fazer qualquer projeto de carnaval. Nossos 3 ou 8 milhões representam um “extra” que não vai ser aplicado exatamente na avenida.
    Enquanto isso, na São Luís de verdade, esta ilha perdida no Atlântico Norte, os planos para comemoração dos 400 anos caminham a passos lentos. Especificamente para o carnaval, ainda não ouvimos divulgação de nenhuma diretriz da festa pela prefeitura ou pelo governo do estado. Enquanto se manda para Beija-Flor um dinheiro que podia financiar o carnaval de todas as nossas escolas de samba, nem sequer sabemos sobre o que elas vão falar, quais serão os temas enredos, que aspectos da história da cidade irão abordar e como farão isso. É preciso ter cuidado para não fazermos feio na nossa própria festa de aniversário.
    Se houver planejamento, mesmo com os parcos recursos de que dispõem, nossas escolas de samba podem dar uma contribuição importante para a festa. Os desfiles têm melhorado nos últimos anos. Só que elas precisam de orientação.
    A Favela do Samba já divulgou uma proposta de enredo genérico: “São Luís, menina dos olhos do mundo” – uma colagem de informações rasteiras e lugares-comuns misturando história, folclore, artesanato, gastronomia, uma verdadeira salada mista sem sentido algum ou com todos os sentidos possíveis. Esse é o tipo de iniciativa que deve ser evitada. Se a Favela, com todas as suas virtudes, propõe um enredo desses, imagine se todas as escolas fizerem o mesmo: o desfile vai ser repetitivo, monótono e o que deveria ser uma festa excitante vai ser uma chatice com veios de idiotice. É mais interessante que a prefeitura, como promotora do evento, proponha um roteiro com várias opções de enredo, contemplando momentos e personagens distintos da história da cidade.
    Afinal de contas são 400 anos, não 40 anos ou 40 dias. Há muita coisa a ser explorada, os 400 anos podem divididos em fases e tópicos: a fase colonial, a fase imperial e provinciana, a fase republicana, a arquitetura, o folclore, a gastronomia, os grandes vultos da história política e cultural, etc... Cada ponto desses dá um enredo diferente e que pode se debruçar profundamente sobre cada assunto. Se todos quiserem falar de tudo ao mesmo tempo, a coisa não ultrapassa o nível superficial. Mas o processo de orientação e planejamento deve começar desde já.
    Certamente deve haver um aporte de recursos extra nesse ano de comemoração também para os grupos locais. Não será possível negar isso, quando aí já se vão 3 ou 8 milhões para Beija-Flor – isso prova que há dinheiro sim! E as escolas de samba ludovicenses devem recuperar seu poder de organização e barganha. Devem pressionar pelo aumento de verbas nesse ano especial. Se os cariocas merecem, nós maranhenses merecemos muito mais. Nós somos os donos da casa, somos nós que vivemos e aturamos essa cidade com todos os seus defeitos há 400 anos. E nada indica mudanças à vista.
(*) Prof. Dr. Do Departamento de Artes/UFMA

Raposas ou galinheiro?

BRASÍLIA - "O Congresso faz parte da sua história. Mudou para Você, Mudou para o Brasil", diz a campanha anunciada ontem pela equipe de Criação e Marketing do Senado Federal para "aproximar o cidadão à atividade legislativa".
    Já na internet, a campanha badala avanços aprovados pela Casa: adoção, licença-maternidade, proteção à infância e segurança no trânsito (homenagem a Aécio?).
    Tudo muito bom, tudo muito bem, não fosse a falta de oportunidade, que derruba qualquer peça de marketing. Não é que a campanha para aproximar o cidadão do Senado foi anunciada dois dias depois de Roberto Requião arrancar o gravador de um repórter e no dia em que João Alberto foi eleito presidente do novo Conselho de Ética?
    Encarregado de apurar acusações de falta de decoro de senadores, o Conselho ficou do jeitinho que José Sarney gosta. A começar do presidente, João Alberto (MA), tão inexpressivo quanto conveniente ao conterrâneo Sarney, alvo de 11 processos no órgão em 2010.
    A lista de membros é engraçada, se é possível ver alguma graça na tragédia: Renan Calheiros renunciou à presidência do Senado após denúncias, Romero Jucá saiu da Previdência por não explicar o inexplicável, Valdir Raupp responde a processo na Justiça, Gim Argelo é investigado em inquérito que está no Supremo, e vai por aí afora.
    A legitimidade que eles têm para analisar, julgar e eventualmente condenar algum colega é a mesma que a diretora-geral da Polícia Rodoviária Federal, Maria Alice Nascimento Souza, tem para multar e prender quem quer que seja por faltas no trânsito. Com 27 pontos na carteira, ela se fingiu de desentendida. Só devolveu a habilitação depois de tudo parar na TV e vai ter de fazer cursinho de reciclagem.
    É assim que o Conselho de Ética segue a sina das velhas e saudosas CPIs. Ele e elas vão, e as raposas ficam. Evidentemente, tomando conta do galinheiro.
Da Folha de S. Paulo

Forró de plástico

Khalil Gibran
CHICO CÉSAR SOLTA O VERBO E ABRE CAMINHO PARA A DISCUSSÃO SOBRE A INDÚSTRIA CULTURAL DAS ATUAIS BANDAS DE FORRÓ DO NORDESTE – E SOBRE A INFLUÊNCIA DO JABÁ NO SEU SUCESSO
    Estava eu na cidade de São Paulo, em 2005, quando surgiu, durante uma palestra sobre o mercado fonográfico com o querido Ronaldo Lemos, representante do Creative Commons no Brasil, em meio à exposição de exemplos bem sucedidos da música independente, uma explanação sobre o quão sofisticada era a maneira de trabalhar das bandas de forró do Nordeste. Começava aí um dos grandes equívocos da música brasileira.
    Para iniciarmos este assunto, vale ressaltar que nem sei até que ponto podemos chamar de “forró” essas manifestações musicais. Uma vez que os elementos que caracterizaram o ritmo ao longo da nossa história, na maioria dessas produções, inexistem ou são totalmente coadjuvantes. É o caso da sanfona, do triângulo, do pandeiro, do zabumba e, principalmente, dos elementos culturais tão singulares da região Nordeste que permeavam com sintaxe ímpar as letras das canções.
    Outra coisa que queria deixar bem clara é que não tenho nada contra nenhum tipo de produção musical. O que acho injusto é quando há a exclusão de uma grande maioria de bons artistas em detrimento de uma indústria, como é o caso que vou tentar esclarecer aqui.
    Meus queridos leitores, a manifestação cultural do atual forró nordestino é uma falácia. Não existe essa manifestação. Existe uma indústria bem montada, que aprendeu direitinho a lição do jabá e do jogo de influência. Então, sugiro que tirem as crianças da sala para os casos que vou contar.
   Um grande número de rádios comunitárias se instalaram no interior do Nordeste nos últimos anos. O problema é que de comunitárias muitas dessas rádios não têm nada. Uma vez que uma grande parcela foi concebida por políticos para seus fins eleitoreiros. Nestas, é comum a prática de escandalosos contratos com “bandas de forró” para garantir a execução das suas músicas. O mesmo acontece com as rádios oficiais que, não custa lembrar, funcionam com uma concessão pública. Essa prática também se estende às tvs locais de várias grandes cidades da região.
    A outra parte da história pode parecer piada, mas Freud explica. Uma ação encabeçada pelos chamados “paus pequenos” – como são identificados pelos que os repudiam – divulga essas produções em grandes equipamentos de som, conhecidos popularmente como “paredões”. Nesse caso, as músicas, em geral, fazem apologia ao comportamento machista e ao consumo desmedido de álcool, tudo para combinar com a personalidade dos atores que tentam chamar a atenção das pessoas ligando seus sons no último volume, a qualquer hora, em qualquer lugar e dançando bêbados e imbecis na carroceria de suas pick-ups. Para “quem” e o “que” eles querem provar? Não me perguntem. Porém, agem como verdadeiros soldados do exército do mau gosto e da falta de respeito.
    Diante de toda essa presença nos meios de comunicação existe para o restante do país uma falsa impressão de que tudo é um belíssimo movimento espontâneo cultural. Uma mentira. A indústria que existe em torno dessas bandas é bem articulada e excludente.
    Recentemente, o secretário da cultura do Estado da Paraíba, o cantor e compositor Chico César, causou grande polêmica ao afirmar que o governo não contrataria as bandas de “forró de plástico” para tocar nas tradicionais festas juninas do estado. O secretário explicou em várias entrevistas que artistas locais da cultura paraibana já eram excluídos por essa mesma indústria o ano inteiro, lembrando que as rádios muitas vezes não cumpriam com seu papel social, mesmo tendo uma concessão pública. Afirmando ainda que essas bandas de forró já se beneficiam do próprio mercado, não necessitando de apoio governamental. Chico esclareceu ainda que nomes como Mestre Fuba, Vital Farias, Biliu de Campina e outros grandes artistas paraibanos, ficam totalmente fora de todas as programações. “A gente precisa trazer poder para esses artistas nas nossas festas, valorizá-los, e precisamos trazer poder também para os grupos de cultura popular”, afirmou o secretário, enfatizando que muitos desses músicos são tratados como se fossem “qualquer coisa” quando, na verdade, são gênios da nossa música.
    Diante da polêmica, gerada obviamente por aqueles que têm interesses extremamente comerciais nos eventos paraibanos e nordestinos, vários artistas se manifestaram em favor de Chico César. Nomes como Alceu Valença, Arleno Farias, Chrystal e Zeca Baleiro declararam apoio pela internet ao artista e secretário.
   Aqui no Ceará cresci vendo acontecer exatamente o mesmo processo. Artistas locais sendo sempre desvalorizados em detrimento de projetos forjados com jabás e mídias televisivas. Eventos como o famoso “Férias no Ceará” gastam uma quantidade exorbitante do dinheiro público com bandas que vêm do sudeste do país, enquanto os artistas cearenses são escalados para abrir seus shows, muitas vezes covers das mesmas bandas que tocarão depois deles.
    Sendo eu um conhecedor não passivo de todo esse descaso e enquanto artista e produtor cultural brasileiro, resolvi, após falar com o próprio Chico, também declarar publicamente meu apoio ao cantor, compositor e secretário da cultura. Não se trata de protecionismo ou de preconceito, trata-se de responsabilidade cultural e compromisso com a memória, difusão e produção cultural brasileira.
Parabéns ao Estado da Paraíba. Nosso Brasil precisa de mais secretários da cultura com coragem de fazer o que tem que ser feito e, principalmente, de enfrentar as turbulências que essas transformações podem provocar.
Khalil Gibran é cantor e compositor

Manchetes dos jornais

Maranhão
O ESTADO DO MARANHÃO - Assembeia baixa Resolução para criar municípios
O IMPARCIAL - Silêncio! Polícia faz plantão contra o barulho
Nacional
CORREIO BRASILIENSE:De doida, promotora não tem nada, diz IML
FOLHA DE SÃO PAULO:Arma ilegal entra pela fronteira ate por motoboy
O ESTADO DE MINAS:Nós precisamos de soluções. E não podemos mais esperar...
O ESTADO DE S. PAULO:Facções rivais palestinas anunciam reconciliação
O GLOBO:Empresas já se preparam para disputar aeroportos
VALOR ECONÔMICO:Mínimo de 2012 eleva em R$ 10 bi o déficit do INSS
ZERO HORA:Argentina e China tiram força do setor de máquinas do RS
Regional
DIÁRIO DO PARÁ:Pai torturava o próprio filho
MEIO-NORTE:186 agressões contra mulheres em 30 dias
JORNAL DO COMMERCIO:Falta leito até em hospital particular
O POVO:Bateu? Retire o carro