15 de mai. de 2010

Flip testa veia literária de Lou Reed

CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK

Lou Reed, escritor? É a pergunta que se faz diante da confirmação da presença do músico na próxima Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), de 4 a 8 de agosto.

Pois são as canções do roqueiro e fotógrafo -imortalizado, nos anos 60, ao criar a banda Velvet Underground- que justificam a sua participação no festival pop literário.

Em julho, a Companhia das Letras traz ao Brasil "Atravessar o Fogo", que reúne 310 músicas. Lançado em inglês em 2000, foi tido pela mídia americana como o endosso da importância de Reed como poeta.

Mas o autor de clássicos como "Walk on the Wild Side", "Heroin" e "Perfect Day", hoje com 68 anos, demonstrou outros vínculos com a literatura ao longo de sua carreira.

No mesmo ano do lançamento da coletânea que chega agora ao Brasil, Reed revisitou as histórias de mistério do escritor americano Edgar Allan Poe (1809 -1849) para escrever a peça "POEtry", em parceria com o diretor Robert Wilson.

Mais tarde, transformou o texto teatral no álbum-conceito "The Raven" (2003), em que gravou com convidados como Steve Buscemi e David Bowie. E as músicas, de novo, viraram livro, acompanhadas de fotos do cineasta Julian Schnabel.

"Eu amo a linguagem de Poe", disse, em 2001, ao "New York Times". "Combina perfeitamente com a minha ideia do que o rock poderia ser: o ritmo, o sexo do rock e o seu impulso físico, com o verdadeiro poder da linguagem."

A mescla de literatura e música, segundo o compositor, não é uma tentativa de legitimar o rock ou ensinar uma lição a adolescentes iletrados, apenas a recusa de separar dois meios de que gosta.

"Não vejo nenhuma razão pela qual você não possa gostar de rock e ser inteligente. Podemos engajar nossas mentes dentro da música", afirmou.

O "rock inteligente" de Reed começou nos anos 60, depois de estudar poesia com Delmore Schwartz (1913-1966), a quem chama de "mestre", na Universidade Syracuse.

Entre 1965 e o início dos anos 70, Reed aplicou seus conhecimentos literários a letras realistas sobre vícios, sexo e amores problemáticos, no auge da banda Velvet Underground, cujo nome foi inspirado no título de um livro.

Fora do grupo, o roqueiro se voltou mais uma vez à poesia, chegando a participar de recitais com a presença de Allen Ginsberg -ícone da geração beatnik- e a proclamar que nunca voltaria a cantar.

Desde então, não largou nem o rock nem a poesia, na tentativa de levar "sensibilidade literária ao rock and roll".

Questionado pelo jornal "El País", no fim de 2008, se imaginava o seu nome como candidato ao Nobel de Literatura, Reed, que foi à Espanha naquele ano participar de um recital de poesias, respondeu: "A pergunta é se acho possível? Não, Bob Dylan já preenche a cota de candidatos no setor dos cantores/compositores judeus. Se acho que mereço? Tenho obra suficiente".

E, nesta semana, Reed anunciou o seu próximo projeto musical, "Music for Dogs" (música para cães), em parceria com sua mulher, Laurie Anderson.

O concerto para ouvidos caninos está marcado para 5 de junho, como parte de um festival australiano que terá a curadoria do casal. Segundo a mulher de Reed disse a um jornal de Sydney, eles têm mais de dez anos de experiência em fazer música para o seu rat terrier.

Poeta do rock marginal dos anos 60, americano vai participar da festa de Paraty

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