22 de ago. de 2010

Festa São Raimundo dos Mulundus se repete em Vargem Grande

Mundo, mundo, vasto mundo. Se me chamasse Raimundo...Raimundo, vaqueiro nascido em Vargem Grande (MA) e encontrado morto e exalando perfume na Fazendo Mulundos, seria reverenciado como santo e um rosário de devotos seguiriam meus passos no andor, todos os anos no mês de agosto – sempre do dia 22 ao dia 31, em pleno sertão Maranhense. Seria São Raimundo dos Mulundus, o santo protetor dos vaqueiros do Maranhão.
     Na paisagem agreste de Vargem Grande, às vésperas do período mais seco e ensolarado do ano que antecede os chamados meses bros (setembro a dezembro), acontecem a partir deste domingo os Festejos de São Raimundo dos Mulundos, um dos maiores eventos religiosos do Estado.
     O nome Mulundus da fazenda tem origem na dança de raízes negras chamada lundu, hoje desaparecida.
     Os festejos têm hora marcada para começar. Às cinco horas da manhã do dia 22 de agosto os sinos dobram na Igreja de São Sebastião – padroeiro oficial de Vargem Grande, convocando os fieis a seguir em procissão até a Paulica (a pronúncia do povo do lugar troca o au por ó),lugar distante cerca de oito quilômetros das escadarias da igreja.
     A aurora no sertão imprime suas cores no céu e no chão. E das ruas de traçado retilíneo de Vargem Grande emergem centenas de pessoas. Aos primeiros galopes dos cavalos o silêncio se espatifa. Eles caminham em direção à igreja central da cidade, de onde sai a imagem do santo em um pequeno andor decorado com flores vermelhas e brancas, cores oficiais de São Raimundo Nonato.
     Os 40 degraus das escadarias da igreja de São Sebastião elevam ainda mais a imagem do santo, que desce em andar pontualmente às 6 horas para iniciar o percurso religioso.
     Pagadores de promessa se vestem de mantos de toda cor. As tonalidades se apegam à fé. Vermelha é a própria, branco a paz, verde a esperança. Mas, é o tom do jibão que faz estreia nesse dia, com direito a mocó, perneira, peitoral e um indefectível chapeu de couro que mais chama atenção.
     Tanto o vaqueiro como Dona Nini Barros, espécie de zeladora e curadora do Santuário de São Raimundo, sempre foram o ponteiros da festa.
      A imagem de São Raimundo Nonato dos Mulundus, trazida da Espanha, em nada lembra o vaqueiro, certo dia desaparecida e encontrado morto ao lado de uma carnaubeira na fazenda onde trabalhava e operou milagres, despertando a devoção de muitos e muitos fieis.
     Segundo contam os vargemgrandenses a primeira imagem do santo,feita em Portugal, encontra-se em Roma. Ficou uma réplica em Vargem Grande. Em 1981, a imagem de São Raimundo dos Mulundus foi roubada de dentro da igreja de São Sebastião,, Dias depois foi encontrada no estado de Pernambuco.
     Romeiros de lugares vizinhos e outros vindos de muitas léguas distantes seguem a pé na trlha do santo. Demonstram gratidão por milagres alcançados. Mulheres com pedras na cabeça,crianças em trajes de São Francisco, anjos de asas coloridas. Mortalhas, túnicas e outras peças da indumentária religiosa fazem parte do figurino. A romaria a cavalo é masculina. Os vaqueiros prestam homenagem ao padroeiro em contrição. Enfim, a procissão de devotos de São Raimundo dos Mulundus. O percurso inclui um trecho da BR-222 no Maranhão.
     Na chegada a Paulica o alvoroço é grande. A poeira enevoa o clima quente e leva a fé às alturas.Dentro da igreja se abarrotam os romeiros.
     Do lado de fora, uma imagem do santo está acima de todos os homens. A peça foi confeccionada pela artesã Diane Mota, conterrânea e devota de São Raimundo dos Mulundus. É ela que organizada a missa do vaqueiro na programação da festa.
     Do lado de fora ainda um leilão é realizado. Capões, porcos, sacas de arroz, de farinha e mercadoria de toda espécie são leiloadas.
     Cumprida a obrigação religiosa, o resto é só festa. Muito baião, reggae, forró e tudo que embale uma multidão de ávidos por diversão.
     Quando o sol arde menos no horizonte se inicia o caminho de volta. Quando a noite cai as velas iluminam os passos, inclusive dos cavalos conduzindo os donos trôpegos. Depois de se encontrarem no meio do caminho, entre palmas e gritos de vivas, São Raimundo volta a igreja de São Sebastião.

Onde acontece a festa
Vargem Grande está localizada a 153 quilômetros de São Luís. O acesso a partir da capital se faz pelas BR-135 e 222. A primeira povoação local data do século XVIII. A devoção a São Raimundo está intimamente relacionada às boiadas conduzidas por vaqueiros que se serviam da trilha à beira do Rio Itapecuru e Munim.

3 comentários:

Poeta Revolucionário disse...

Caro amigo H Bois

Seu comentario, verdadeira prosa sobre a festa, retrata fielmente os acontecimentos sagrados e profanos da romaria de SRN dos Mulundus.
Como sugestao, gostaria que nos proximos anos abordasse comentarios populares e divulgasse as novidades como a Barraca da AVA(Assoc. Vargengrandense da Amizade),ISO(Instituto Simplicio Oliveira), onde temos livros, cds, cantorias e forro pe de serra e cachaca!
No mais acho que vc ja da uma grande contribuicao... Valeu!
Em nome dos amigos de VG fico muito agradecido.
JETHER JORAN (Poeta e Escritor)
Autor dos livros: Poesias Revolucionarias e Historias e Estorias de Minha Cidade.

Anônimo disse...

É O MELHOR FESTEJO DO MARANHÃO

Anônimo disse...

2011 faremos um festejo ainda melhor

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