14 de nov. de 2010

Buraco do Lume: Distribuidora do Maranhão tira do ostracismo clássicos do cinema mundial

Rodrigo FonsecaRIO - David Lynch, Wong Kar-wai, Francis Ford Coppola, Jean-Jacques Annaud e toda a turma do Cinema Marginal brasileiro dos anos 1960 e 70 encontraram em São Luiz, no Maranhão, um aliado devotado a salvar clássicos e cults do cinema nacional e estrangeiro do baú do esquecimento: a Lume Filmes, produtora e distribuidora que vem surpreendendo o mercado de DVDs. Desde 2007, quando distribuiu uma edição digital de "Felicidade" ("Hapiness", 1998), de Todd Solondz, a Lume especializou-se em enviar para locadoras e lojas especializadas produções festejadas pelos críticos - algumas de bilheteria milionária, como "O reencontro", de Lawrence Kasdan -, mas sumidas das prateleiras e até de acervos de cineclubes desde o ocaso das fitas VHS. Em três anos, o selo maranhense já lançou 106 filmes, sendo quatro a cada mês. Anteontem, saiu a remessa de novembro formada por: "Um condenado à morte que escapou" ("Un condamné à mort s'est échappé", 1956), de Robert Bresson; "Nas garras do vício" ("La beau Serge", 1958), de Claude Chabrol; "Roleta chinesa" ("Chinesisches Roulette", 1976), de Rainer Werner Fassbinder; e "Muito mais que um crime" ("Music box", 1989), de Costa-Gavras.


David Lynch tem "Eraserhead" na lista

    - Sabendo-se que só existem salas exibidoras em um número mínimo de municípios brasileiros (382 de um total de 5565), a idéia da Lume é levar cinema autoral a um público cada vez maior e diferenciado. A questão é que os direitos autorais pagos para se licenciar o lançamento de um filme em DVD pode variar de US$ 500 a US$ 15 mil. "Os amantes da Pont-Neuf", de Leos Carax, por exemplo, foi acima $R$ 10 mil - diz Frederico Machado, diretor da distribuidora.
    É ele mesmo quem legenda filmes encarados como pepitas douradas por cinéfilos como "A rosa tatuada", que rendeu o Oscar de melhor atriz a Anna Magnani em 1956, ou "If" (1968), que rendeu a Palma de Ouro em Cannes a Lindsay Anderson. Também premiado com a láurea máxima de Cannes, "O espantalho" ("Scarecrow", 1973), no qual o diretor Jerry Schatzberg juntou Al Pacino a Gene Hackman num drama sobre pobretões à cata de dignidade, estão entre as pérolas que a Lume lança para o Natal. Também para dezembro chegam "Os companheiros" ("I compagni", 1963), de Mario Monicelli, "Os primos" ("Les cousins", 1959), de Chabrol, e "A terceira geração" ("Die dritte Generation", $1979), de Fassbinder.
    - Além da coleção do Cinema Marginal (da qual fazem parte filmes cultuados como "Bang bang", de Andrea Tonacci, e "Sem essa, Aranha", de Rogério Sganzerla) lançada em parceria com o pesquisador Eugênio Puppo, estamos com um projeto de distribuir em DVD filmes brasileiros mais recentes. Já temos a caminho "Os inquilinos", de Sérgio Bianchi, "Hotel Atlântico", da Suzana Amaral, e "A falta que me faz", de Marília Rocha - diz Frederico, que prepara agora o livro "Os filmes que sonhamos", com textos de críticos e ensaístas sobre 100 títulos lançados pela Lume.
    Premiado no recém-encerrado Amazônia Doc.2 - Festival Pan-Amazônico pelo curta-metragem "Vela ao crucificado", Frederico, de 38 anos, iniciou a Lume em 2000, cuidando, originalmente, de uma sala exibidora em São Luiz, o Cine Praia Grande. Com 120 lugares, o espaço dedica-se a trabalhos de realizadores cuja necessidade de invenção é maior do que a ambição de bilheteria.
    - Fizemos uns três festivais internacionais no cinema. Graças a esses eventos, fechamos contatos no exterior que nos permitiram chegar aos detentores dos direitos de comercialização dos filmes que distribuímos agora. Alguns, tiveram uma venda surpreendente, como "A guerra do fogo", de Annaud, que vendeu 7 mil DVDs. "A conversação", de Coppola, e "O conformista", do Bertolucci, venderam 4 mil cópias cada - diz Frederico, maranhense que veio para o Rio cursar Filosofia na Uerj, Jornalismo na PUC e Cinema na UFF, e acabou voltando, sem se formar, para São Luiz onde montou a locadora Backbeat. - Com as rendas do Cine Praia Grande e da locadora, a gente consegue se equilibrar para investir nos projetos de DVD.
    Cada projeto desses, seja uma iguaria para paladares afeitos à estranheza, como o davidlynchiano "Eraserhead" (1976), ou obras talhadas para se ver a dois, de mãos dadas, tipo "O fundo do coração" ("One from the heart", 1982), de Coppola, tem uma equação financeira padrão.
    - De maneira geral, nossos DVDs têm alguns custos fixos: R$ 3 mil é a taxa da Ancine, R$ 3,2 mil é o custo para a replicação de mil cópias, que é o mínimo tirado para cada filme. Depois, pagamos R$ 1 mil pelo projeto gráfico, cujas capas têm uma concepção artística assinada por Renan Costa Lima, e mais R$ 1,2 mil de autoração, que equivale gastos com extras, legendas e a criação do menu de capítulos - explica Frederico.
    Inclua entre os futuros investimentos de Frederico o Festival Lume de Cinema. Já em produção, o evento será uma mostra competitiva, incluindo concorrentes internacionais, prevista para o fim de maio de 2011. Quanto aos DVDs, ele tem uma meta: alcançar o padrão da The Criterion Collection, distribuidora criada nos EUA, nos anos 1980, e famosa por suas edições luxuosas, com libretos e documentários informativos.
    - Queríamos desde o começo incluir nos nossos DVDs uma faixa de comentários de críticos. Mas o custo era alto. Nosso desejo era chegar perto do padrão da Criterion - sonha Frederico. - Talvez com a boa venda dos nossos títulos, a gente faça o capital necessário para isso.
De O Globo 

1 comentários:

Anônimo disse...

babaca...

Postar um comentário

Comente aqui!!!