6 de jun. de 2011

Casa das Minas: Festa do Divino sem Dona Celeste

D. Celeste
Rosa Santos
 “No primeiro Pentecostes, depois da morte de Jesus, cinqüenta dias depois da páscoa, o Espírito Santo desceu sobre a comunidade cristã de Jerusalém na forma de línguas de fogo; todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme está nas Sagradas Escrituras (Ato dos Apóstolos 2,1-4). Pentecostes é uma palavra que vem do grego e significa “qüinquagésimo”.
     A Festa do Divino no Maranhão é uma festa de devoção e ritual ao Divino Espírito Santo relacionado a Pentecostes que celebra a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e seguidores de Cristo. Pentecostes é o nome dado para o dia em que comemoramos a solenidade do Espírito Santo. Na Casa das Minas, na Casa de Nagô, em Alcântara, citando as mais conhecidas, obedecem o calendário litúrgico da Igreja.
    A Festa do Divino da Casa das Minas, em 2011, tem conotação grandiosamente saudosa: o encerramento de um ciclo de festa do Divino realizado por Dona Celeste. O ritual iniciou dia 29 de maio com abertura da tribuna e buscamento do mastro; levantamento do mastro, dia 1º de junho, e prossegue até dia 14 quando se dá o serramento do mastro e carimbó das caixeiras. Nesse ínterim, acontecem vários rituais que culminam no Domingo de Pentecostes. Mas a grande lacuna, neste ano, é a ausência de Dona Celeste. Ela sabia movimentar devotos e devotas do Divino Espírito Santo de todas as camadas sociais, propiciando interação entre as pessoas chamadas de elite e as menos favorecidas. Transformava a Festa do Divino num tempo de partilha e congraçamento entre pessoas de vários níveis sociais e intelectuais. Além de organizar a festa era também a caixeira-régia – aquela que comanda, junto com a caixeira-mor, o grupo de caixeiras que tocam em festas do Divino e é responsável pelo cumprimento do ritual da festa - cargo assumido por Jacy Gomes Santos, conhecida como Dona Jacy, caixeira-régia de várias festas em São Luis e sobrinha de Dona Celeste.
    Dona Cecé, como era carinhosamente chamada, possuía carisma das Grandes Mães-de-Santo brasileiras. Carisma que gerou, após sua morte, em 25 de outubro de 2010, incertezas quanto a continuidade da Festa do Divino na Casa das Minas. A festa é obrigação da casa, quando começou é difícil precisar, como a maioria das manifestações populares religiosas, mas os registros e depoimentos das vodunsis no livro Querebentan de Zomadonu, nome africano da Casa das Minas (Ferretti,1985), afirmam: Na casa das Minas a festa do Divino é uma tradição antiga e o pessoal diz que ela sempre foi feita. A festa do Divino é uma devoção de nochê Sepazim e é uma obrigação (preceito, dever) da Casa. Nochê sepazim é a princesa da família Davice, filha do Rei Dadarro e casada com o príncipe Daco-Donu. Ela portanto representa a imperatriz e a festa é organizada em sua homenagem pois ela adora o Divino Espírito Santo. Dona Celeste diz que ela dá esmolas aos pobres e doentes da família de Acossi e por isso na Festa do Divino as crianças representando imperadores, quando voltam da procissão, distribuem esmolas aos pobres na entrada da casa.
    O carisma de Dona Celeste a fez conhecida no Brasil e no exterior. Ela tinha a visão das grandes mulheres, sempre a frente do seu tempo, o que nos permitiu gravar um disco com as caixeiras. Em 1989, enquanto produtora do programa Santo de Casa da Rádio Universidade e Jurandir Serra, sonoplasta, acompanhamos todas as etapas do ritual da Festa do Divino – abertura da tribuna ao derrubamento do mastro - exigência de Dona Celeste para nos dar a licença para produzirmos o disco. A equipe da Rádio Universidade colocou, pela primeira vez, caixeiras da Casa das Minas num estúdio de gravação, fato inédito na história da casa.
    Participaram Maria Farias (caixeira-régia, na época) voz e caixa; Celina Rodrigues Pachedo, Ivete Rodrigues Sousa, Laudelina Apolonia Medeiros (Lalá), Maria Cesarina dos Passos Lisboa e Maria Celeste Santos (Dona Celeste), no coro e caixas. Todo processo, que antecedeu a gravação foi registrado em Akai, gravador de rolo, na operação de áudio de Jurandir com apoio técnico de Cristina Lima e Álvaro Junior, que resultou no Disco Batuque Universo (1993), em vinil, com direção e produção de Jurandir Serra e Roza Santos, um produto da Radio Universidade FM, em que foram gravados cânticos do Divino Espírito Santo da Casa das Minas; Boi de Zabumba do Monte Castelo, de Antero Viana; Boi de Pindaré II, de Gago e Tambor de Crioula “Amor de São Bendito, da Fé em Deus.
     A Casa das Minas surgiu na primeira metade do século XIX, fundada por negros africanos jeje. É um grande Templo em que os voduns se reúnem em famílias, estabelecidas em partes específicas da casa, espaços sagrados de cada família: voduns da família de Davice; voduns da família de Savaluno; voduns da família de Dambirá (voduns jeje); e voduns da família de Quevioçó que é nagô , eles são hóspedes de Zomadonu que deu o lugar a eles. Averequete e Abê (são nagôs) fazem o papel de toquens, são mensageiros. A parte da Casa destinada a eles (da família Quevioçó) são os dois quartos à esquerda do corredor de entrada (Ferretti,1985). Espaço da casa em que Dona Celeste que pertencia ao vodum Averequete morava. Ela nasceu em São Luis em 13 de abril 1924 e freqüentou a Casa das Minas desde 1945, dançou na Casa em junho de 1950 e meses após a morte de mãe Andresa foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou até 1967, morando no Rio ajudou a organizar várias festas do Divino. Voltou a São Luis em 1968, tomou a frente da realização da Festa do Divino e, a partir de 1976, quando Dona Amélia assumiu a chefia do culto, compartilhava a direção da casa, encarregando-se dos aspectos administrativos e materiais. Era a relações públicas.
     Este ano, o convite vem assinado por Dona Denil Prata Jardim, chefe espiritual da Casa; Euzébio Pinto, neto de Dona Amélia Pinto e huntó ( tocador-chefe); Edna Cardoso Lima e Onezinda Pinheiro, assissis (tratamento dado às pessoas amigas da Casa) que já assinam, há quarenta anos, com Dona Celeste, as cartas-convites para coleta de donativos para a festa.
    A Programação da Festa do Divino da Casa das Minas, prossegue: Dia 12 – Domingo de Pentecostes -Alvorada ao pé do mastro, às 5h; Missa na Igreja de Santana , às 8h, e cortejo dos Impérios até a casa das Minas; Almoço dos Impérios, 12h; Toque de Caixas ao pé do Mastro, às 17:30h; Jantar dos Impérios, às 19:30, e em seguida Ladainha. Dia 13 – Derrubamento do Mastro, às 19:30h: Jantar dos Impérios, às 20h; Ladainha, às 20:30h; e Fechamento da Tribuna e posse aos impérios, às 21:30h; Dia 14 – Serramento do mastro e carimbo das caixeiras com arroz de toucinho e camarão seco, às 17:30h; e Tambor de Crioula, às 19 horas.
(*) Rosa Santos é aposentada (Radialista) e membro da Comissão Maranhense de Folclore rozasantus@yahoo.com.br

0 comentários:

Postar um comentário

Comente aqui!!!