4 de nov. de 2010

Amazonas, latifúndio de votos de Dilma

Ronaldo Brasiliense
    Que Nordeste, que nada. A maior votação obtida por Dilma Roussef (PT) na eleição presidencial veio do Amazonas, o maior e mais preservado estado da Federação, com seu continental território de 1,57 milhão de kms quadrados, 18% do Brasil, três vezes maior que a França.
    Lá, onde não há uma só rodovia ligando o estado aos maiores centros do país, Dilma Rousseff recebeu 80,57% dos votos válidos, contra 19,43% do tucano José Serra.
    A pororoca de votos em Dilma este ano não foi suficiente, porém, para quebrar o recorde de Luiz Inácio Lula das Silva, o campeão de votos no estado que detém a maior floresta tropical úmida contínua do planeta.
    Lá, em 2006, no segundo turno da eleição presidencial, Lula teve 86,8% dos votos, contra 13,19% para o tucano paulista Geraldo Alckmin.
    Se no vizinho Acre Dilma perdeu para Serra em 22 dos 23 municípios, no Amazonas a hoje presidente eleita arrebentou: ganhou em todos os municípios e na desconhecida Manaquiri – a 60 kms a sudoeste de Manaus, a capital, obteve 93,2% dos votos, um recorde entre todos os mais de 5.500 municípios brasileiros.
    Dilma Roussef mesmo assim perdeu para o campeão dos campeões de voto no estado – isso mesmo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que em 2006, no segundo turno contra o também paulista Geraldo Alckmin, hoje governador eleito de São Paulo, teve 93,3% dos votos de Manaquiri a, digamos assim, mais vermelha de todas as cidades do País.
    Mas como explicar tanto sucesso eleitoral de Lula e Dilma no maior e mais distante estado brasileiro?
Vamos por partes:
    Primeiro, o Amazonas é pródigo em Bolsas-Família, distribuídas aos milhares entre sua paupérrima população interiorana, principalmente, num estado onde as dificuldades de locomoção são terríveis.
    Segundo, o Amazonas surfou na onda da Copa do Mundo de 2014, numa disputa em que Manaus derrotou Belém – capital com mais infraestrutura e governada por Ana Júlia Carepa (PT), supostamente amigona do presidente Lula e que chegou a organizar festa em praça pública em Belém para comemorar a escolha da capital paraense como única sede da Copa de 2014 na Amazônia.
    Terceiro, e mais importante: no Amazonas, mais do que em qualquer outro estado brasileiro, a máxima do ministro da Propaganda de Adolf Hitler, Joseph Goebells, “Uma mentira repetida à exaustão torna-se uma verdade!”, pegou.
    Propaga-se há mais de uma década que os candidatos a presidente da República paulistas querem porque querem acabar com a Zona Franca de Manaus, um território livre de impostos, responsável por oito em cada 10 postos de trabalho existentes em Manaus, que por sua vez concentra mais de 50% do eleitorado do Amazonas.
    Essa mistura empolgante de Bolsas-Família, Copa do Mundo e boatos contra a Zona Franca foi fatal nas últimas três eleições presidenciais, onde Lula bateu José Serra em 2002 e venceu Geraldo Alckmin em 2006, e onde Dilma Roussef arrebentou com Serra em 2010.
    E a derrota só não foi mais acachapante porque houve influência de fatores climáticos: a seca dos rios Solimões, Negro e Madeira, entre outros que banham o estado, afastou das urnas milhares de eleitores.
No município de Maraã, ao norte de Manaus, por exemplo, o índice de abstenção no segundo turno das eleições foi de 58,82%, um recorde.
    O eleitorado de Maraã é de 7.414 pessoas, das quais 4.361 não compareceram às urnas. Dilma Rousseff (PT) ganhou a eleição na cidade, com 3.486 votos. José Serra (PSDB) recebeu 436 votos.
    “A abstenção em Maraã teve relação direta com a seca. Os eleitores não conseguiam chegar aos locais de votação e muitas embarcações ficaram no meio do caminho”, relatou o diretor-geral do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas, Pedro César da Silva Batista, explicando a abstenção recorde.
    O Amazonas registrou o terceiro maior índice de abstenção do País na eleição presidencial no segundo turno, no domingo. O percentual chegou a 26,8%, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A marca só não foi maior que o verificado nos Estados do Maranhão (29,5%) e no Acre (28,2%).
Ronaldo Brasiliense é jornalista

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