24 de dez. de 2010

Natal e o desespero de um poeta em busca da esperança

    Por força do acaso cruzo o caminho do poeta Nauro Machado na rua do Alecrim. De chapéu na cabeça a barba alva se sobressai. Difícil não identificá-lo. É véspera de Natal. Por coincidência, nesse mesmo período o acaso havia nos posto em situação idêntica. O Natal foi o tema da conversa de outrora.
    Cumprimento-o trazendo à tona uma lembrança. No passado o poeta indicou a mim a leitura de um poema curto, de Fernando Pessoa, sobre o Natal, resumindo sua relevância com o comentário lacônico: é um pequeno poema, mas, o mais bonito sobre o Natal.
   Nesse encontro do presente, me equivoco do autor e digo a ele que seria do pernambucano Manoel Bandeira os versos sobre o Natal. Ele me pede algum verso para avivar-lhe a memória. Não me vem sequer um linha.
O poeta então emenda a conversa sobre poesia. "Estou vindo do Arteiro (proprietário da Livraria Athenas) onde deixei duzentos livros do meu livro "Pão maligno com miolo de rosas" já faz quase um ano.Fui lá hoje e só foram vendidos três livros. Acho que não publicarei mais livros no Maranhão", adverte como tomado por um anafilático desespero da esperância.

Eis o poema "Natal", de Fernando Pessoa
O sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto

0 comentários:

Postar um comentário

Comente aqui!!!