18 de jan. de 2011

Bruno Azevedo escreve algo novo onde já se nasce obsoleto pela mera impossibilidade de renovação

    Não há dúvida que "O monstro Souza", romance fastifood de Bruno Azevedo e Gabriel Girnos, do selo Pitomba, é o título mais inovador acrescentado à literatura maranhense em 2010. Da capa soturna, pero no mucho, de Girnos, sob desenho de Marcatti, à orelha nonsense (um texto sobre o cachorro Bingo assinado pelo ex-presidente da AML, Lino Moreira), intui-se que o tom irônico será o diapasão do autor que inaugurou sua bibliografia com "Breganejo Blues". Em breve este deve ganhar versão em "imagem em movimento" na tela.
    A história de um serial killer, espécie gestada a partir de um cachorro quente injeitado do Souza - "sujeito que usa branco e que não sabe se é feliz" - embora às vezes soe pueril, transborda humor e transgressão como na sequência de interjeições do delegado Caolho, do segundo depê: Caralho - constatou. Caralho- dialetizou. Caralho - semantizou. Caralho - filosofou. Caralho -suspirou.
    Em seu romance fastifood Bruno Azevedo resgata ícones do universo literário do Maranhão, como o decantado nas hostes do poder, e, diga-se de passagem, pouco lido, Padre Antônio Vieira; sobre o qual afirma: era motense. O escritor consegue levar a cabo a máxima dostoievskiana sobre a universalidade contida no microcosmo da aldeia. Tudo no livro é São Luís. Um glossário situa o leitor nos meandros do universo da ilha labiríntica onde os franceses fundearam e depois outros e outros, enquanto aguardam a serpente emergir.
    O verbo usado tem um sotaque de ludovico caboclo. Entre uma e outra passagem hilária Azevedo decalca a língua do povo ilhéu e alhures. Palavras como intanguido, chalerar, e expressões como "levanta a tromba, abaixa a tromba", enfatizam sua visão desse cosmo. Audaz e desprovido do complexo de inferioridade, do kitsch, Bruno Azevedo vai fundo nas questões da província. Põe tudo numa vitrine sobre uma penteadeira de puta.
    Os desenhos de Girnos intercalam e amparam a narrativa frenética de "O Monstro Souza". Os recortes de jornais de São Luís com o superlativos do inusitado são de corroer qualquer critério racional.
   Por fim, a obra introduz inovação na literatura do solo gentil "onde ser do lugar e ser caduco confunde-se, onde já se nasce obsoleto pela mera impossibilidade de renovação".

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