18 de mar. de 2011

Overdose de Bigodes -Detalhes do fracassado show de Lobão em São Luís revelados em sua autobiografia

Lobão autograf "50 anos a mil"
Eduardo Júlio
    Nos idos de 1986, um lendário show de rock marcou a história cultural de São Luís. Trata-se do evento que reuniu o cantor carioca Lobão e o grupo paulista Titãs no ginásio do antigo Colégio Marista, no Centro de São Luís. Naquela fatídica noite, Lobão cometeu um dos maiores tropeços da carreira dele. Completamente bêbado e cheio de substâncias não legalizadas no corpo e na mente, o artista não conseguiu executar mais de duas músicas. Saiu do palco carregado, dizem, deixando o público, que lotou o estádio, perplexo e decepcionado.
    Durante anos a fio, esse show foi comentado por quem testemunhou o fato. Talvez, se a performance de Lobão tivesse sido “normal”, o evento teria caído há tempos no esquecimento, como tantos outros de artistas equivalentes, que passaram por São Luís na época.
    Mas o impacto não marcou somente a memória do público, porque esse show foi recentemente relatado de forma minuciosa e bem-humorada na autobiografia “50 Anos a Mil”, lançada no ano passado, mostrando que o acontecimento também teve importância na carreira do artista. Para conferir, basta ler a página 301.
    Um pouco antes, Lobão já tinha revelado todos os detalhes daquele show numa entrevista coletiva concedida no extinto Hotel Vila Rica, em setembro de 2002, no período da única edição do Festival Internacional de Música de São Luís, na qual se apresentou. O jornalista que vos escreve estava presente na coletiva e foi o responsável pela pergunta que provocou a lembrança daquele fato. "Lobão, quais lembranças você tem dos seus shows em São Luís?", indaguei.
    Exatamente como está no livro, Lobão contou que ingeriu ácido lisérgico logo no embarque e que durante o voo bebeu várias doses de uísque. Também relatou que ao chegar ao aeroporto de São Luís foi “intimado” por um simpático emissário de Zequinha Sarney a participar de uma festa que seria realizada, após o show, especialmente para o artista. "Mas que diabos eu faria na casa do filho do cara que eu atacava toda vez que tinha oportunidade", escreveu Lobão em "50 Anos a Mil".
    O constrangedor convite somado às drogas teria provocado no cantor uma hilária e “terrível” alucinação, pois começou a ver bigodes em vários locais da cidade, enquanto passeava de carro. "Via bigodes flutuando na minha frente em praticamente todos os lugares!", relatou bem-humorado o artista.
    Lobão lembrou ainda da enorme carreira de cocaína que consumiu no camarim. Uma tentativa fracassada de ser reanimado.
    Por moralismo provinciano, falta de interesse ou de ousadia, nenhum jornalista local se atreveu a descrever, na íntegra, o que o artista tinha revelado. Felizmente esta história ressurgiu registrada na autobiografia dele.
    Vale ressaltar que Lobão lavou a alma dos roqueiros da capital maranhense, no festival de 2002, com uma memorável apresentação, presenteando a todos com um som denso, ácido e visceral, no Circo da Cidade. Quem viveu, sabe do que estou falando.
REVANCHE
    Em 1986, Lobão tinha lançado “O Rock Errou”, terceiro disco solo do cantor e um dos melhores registros do rock nacional dos anos 80. Em São Luís, a popularidade dele estava no auge. Canções do artista carioca tocavam na programação de todas as rádios FMs da cidade. Inclusive, nas mais populares. “Um café, um cigarro, um trago/ tudo isso não é vício/ são companheiros da solidão...”, dizia a letra de “Revanche”, música composta por Lobão e Bernardo Vilhena.
    Por outro lado, também acabava de chegar ao mercado o terceiro trabalho dos Titãs, “Cabeça Dinossauro”, considerado por muitos críticos como um dos melhores discos nacionais de todos os tempos. Neste conceitual trabalho, a banda paulista assumiu o som e a fúria punk - já anunciada em algumas músicas do disco anterior, “Televisão”. Os mais radicais reclamaram, apontando a aventura punk dos Titãs como tardia e de boutique. Naquele momento, o grupo não era tão popular em São Luís quanto Lobão. As músicas de “Cabeça Dinossauro” ainda não tocavam exaustivamente nas emissoras locais.
    Depois daquele show, o grupo Titãs passou a ser uma das bandas preferidas da juventude local. A performance deles, ao contrário do desempenho de Lobão, mostrou vitalidade e muita energia no palco. Músicas como “Bichos Escrotos”, “Polícia”, “Família”, “Homem Primata”, “Igreja” e “O Que” passaram a figurar na boca da rapaziada.
Do Vias de Fato

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