7 de abr. de 2010

Na coluna do Augusto Nunes: O bigode do patriarca e o menino que não viveu

A arma do crime ─ falta de leito na Unidade de Terapia Intensiva ─ foi a mesma usada nos 61 casos registrados desde o início de 2009 em Imperatriz, no interior do Maranhão. Nesta segunda-feira, outro menino com um ano de idade aumentou a lista de vítimas da inépcia homicida, que inclui um punhado de crianças protegidas, em tese, por liminares judiciais que garantiam o pronto atendimento.

Sempre recitando que o problema é do prefeito, e que o prefeito é do PSDB, o infanticida Ricardo Murad deixou neste feriadão o gabinete que hospeda o secretário da Saúde para candidatar-se à renovação da imunidade parlamentar. Afastado do local do crime, o culpado contempla a tragédia com a arrogância irritadiça dos que têm dinheiro e jatinho para tratar até resfriado nas UTIs ao sul do Maranhão.

Sempre declamando que a capitania hereditária virou uma beleza desde que passou ao controle do clã, o senador José Sarney não tem tempo para pequenos assassinatos. Hipocondríaco de assustar um Howard Hughes, preocupa-se de tal forma com a própria saúde que não sobra espaço para outros enfermos. Vive baixando em UTIs de São Paulo ─ para submeter-se a cirurgias complicadas ou para perguntar qual é o analgésico da moda.

Nesta terça-feira, enquanto outra criança era enterrada numa cova rasa em Imperatriz, o patriarca tinha ao menos dois motivos para sentir-se feliz. Além de confirmarem que o cisto extraído do lábio era benigno, os médicos preservaram o bigode que há tanto tempo cultiva. “Estou bem, salvei meu bigode”, comoveu-se. “Fiz toda força para salvá-lo”.

O adereço foi poupado do bisturi a pedido do paciente, ainda vaidoso aos 80 anos. Setenta e nove a mais que o menino que morreu sem ter vivido.

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