7 de abr. de 2010

Nonato Buzar vive noite de solidão, melancolia e ingratidão

O cantor e compositor maranhense Nonato Buzar parafraseou os “Versos íntimos” de Augusto dos Anjos em noite melancólica no Teatro Arthur Azevedo. Aplaudido  por não mais que vinte pares de mãos, o artista nascido em Itapecuru-Mirim relutou em subir ao palco diante da imensa solidão. Até mesmo um dos convidados da noite planejada para ser “do amor, do sorriso e da flor” - como nos tempos da Bossa Nova -, o também cantor e compositor Gerude, declinou do convite do parceiro sem aviso prévio.

Nonato Buzar é o ilustre autor de “Verão Vermelho”, tema de abertura da novela homônima da TV Globo de 1970, e também de “Irmãos Coragem”, folhetim televisivo levado ao ar logo em seguida, no mesmo ano, que inspiraria a ocupação do bairro Coroado, na periferia de São Luís. A novela de Janet Clair ganharia um remaker de Dias Gomes em 1995.

O maranhense também é autor de “Razão de Cantar”, parceria com Chico Anisio”, defendida pelo cantor Luiz Eduardo no III Festival Internacional da Canção Popular, o mesmo evento em que Chico Maranhão compareceu com “Dança da Rosa” , interpretado pelo Tradicional Jazz Band; e Geraldo Vandré registrou “Pra não dizer que não falei das flores”. Venceu o festival a canção “Sabiá”, de Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque. O ano era 68. O lugar era o Rio de Janeiro.

Segundo Nelson Motta em "Noites Tropicais", Nonato Buzar fazia parte da terceira divisão da bossa nova. A turma da corte de Carlos Imperial, produtor de TV que reuniu a nata musical brasileira na década de 1960..

Em cerca de uma hora e meia o artista radicado no Rio de Janeiro desde a década de 1960 tentou engrandecer o universo musical maranhense, destacando cintilações individuais para uma platéia de amigos e conterrâneos. Para enfretar a pantera da solidão do palco e platéia Buzar contou com a colaboração dos cantores e compositores Nosly e Beto Pereira, que em meio a frases embargadas,  entrecortadas aqui e ali por um “é triste”.

Aos poucos que lhe ouviram Buzar cantou a parceria com Ronaldo Bôscoli, uma das últimas obras produzidas pelo bossanovista, preconizando a morte do Rio São Francisco; uma canção feita para a praia do Olho D Água de outrora. Falou ainda de seus sonhos irrealizáveis e conformados, como o de reunir em uma coletânea a produção dos grandes compositores maranhenses, e, segundo Norsly, disparou o foda-se.

Nem mesmo a companheira  Alcione, que havia anunciado uma participação especial, o prestigiou. Mais uma ingratidão íntima.

Ao sair do palco, Buzar deixou para traz um rastro de frustração e dor que chegou a contagiar a pequena plateia.




"Versos Íntimos"



Augusto dos Anjos



Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!



Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.



Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

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