26 de ago. de 2010

CINE TROPICAL: Dupla maranhense Criolina inventa a trilha de um cinema que não existe

Leonardo Lichote

Rio - O bangue-bangue "A revanche" se passa no Novo México. A sinopse fala do casal de protagonistas, "um homem de passado obscuro, desiludido com a indústria fonográfica", e "uma linda donzela, filha do xerife". Depois de se apaixonarem, eles se tornam foras da lei, "passando a roubar trens, bancos e diligências por diversão". Acrescido de tempero tex-mex e liberdades poéticas, o filme conta a trajetória musical independente do casal Alê Muniz e Luciana Simões, a dupla maranhense Criolina, que acaba de lançar seu segundo CD, "Cine tropical", confirmando a promessa anunciada em 2007, na estreia.
- Qualquer semelhança não é mera coincidência, costumamos dizer - conta Luciana.
     A cantora não se refere apenas a "A revanche" - segundo ela, sua história com Alê está espalhada pelos 14 filmes que compõem "Cine tropical". Obras que nunca existiram nas telas, aliás. Explica-se: elas são canções, cada uma imaginada como trilha de um filme fictício, com direito a classificação de gênero e sinopse no encarte.
     - Não digo que são os mesmos personagens em todos os filmes. Mas poderíamos ser nós dois em todos eles, caracterizados de forma diferente, tipo "Elvis em Acapulco", "Elvis no Havaí"... - brinca Luciana.
     Elvis surge como uma referência em meio a outras. Na verdade, como tudo no CD, Elvis é filtrado pelo olhar tropical de São Luís, cidade colada na linha do Equador. O Rei do Rock, em "Cine tropical", é Erasmo Carlos - homenageado da música-filme "Namoradinho refém", que cita "Fama de mau" e repete a situação de "Coqueiro verde", do sujeito esperando a namorada.
     Colagem com sabor de Nordeste pop-colorido de filme de Guel Arraes codirigido por Hermano Vianna, o disco aproxima Baby Consuelo e Buena Vista Social Club, pregoeiro e Barbarella (de Cururupu, na ficção científica imaginada no CD), romance psicotrópico ("Quem me falou que você era o tal/ Esqueceu do detalhe do seu Gardenal") e chanchada mazzarópica ("Nós capota mas não breca"). Pairando sobre o álbum, o amor pelo cinema brasileiro.
     - Temos muito a ver com o universo de "Bye bye Brasil" >ita<(de Cacá Diegues); a capa é inspirada no filme - diz Luciana, explicando que referências internacionais e nacionais se misturaram em som e letras. - Tem Bardot, Morricone, Jovem Guarda, surf music, carimbó, soca, batidas eletrônicas...
     São Luís também tem papel central. Baseado em São Paulo, o casal voltou à capital maranhense para compor o disco lá, impregnado pelas tradições rítmicas, pelas cores e pela tropicalidade caribenha da cidade.
     O casal romântico de "Amor chanson", a garota papo-firme e o sujeito com fama de mau de "Namoradinho refém", o mocinho e a mocinha nordestinos que tentam a vida em São Paulo de "Nós capota", os fora da lei de "A revanche" - o "assalto" da dupla que bancou o "Cine tropical", aliás, foi o Prêmio Pixinguinha, da Funarte - vêm ao Rio em outubro. Eles trazem sua Caravana Rolidei para o Rival (como parte da programação do Rival Mais Tarde), na Cinelândia - onde mais?
De O Globo

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