27 de set. de 2010

Marajá, mas com vala de esgoto e sem médicos: município maranhense tem os piores indicadores sociais do país

Evandro Éboli
de O Globo
MARAJÁ DO SENA (MA) - Cravada num belo vale de serras formadas por palmeiras de babaçu, Marajá do Sena, a 350 quilômetros de São Luís, não acompanha a exuberância de seu entorno. Com os piores indicadores sociais do país, sua população tem água encanada dia sim, dia não. Não há médico na cidade, cujas ruelas de terra têm esgoto a céu aberto. O acesso a Marajá é por uma estrada de terra esburacada. Para ir a outras cidades, a população usa o pau de arara.
     Na Câmara Municipal e no posto de saúde, um aviso: no dia 10 de outubro estará na cidade um "médico oculista": "Falar com o senhor Reginaldo na farmácia básica do centro de saúde". As consultas serão no pequeno plenário da Câmara, cujos nove vereadores só se reúnem três vezes por mês. O salário é de R$ 1.200.
     - Abrir a Câmara para atender à população com consulta médica é uma maneira de ajudar as pessoas. É um local público - diz Celestino de Jesus, vereador pelo DEM e presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da região.
     O centro de saúde oferece poucos serviços: dentista, exames de fezes e urina, suturas e parto normal, este realizado por enfermeiras. Não há condições para uma cesariana. Dois clínicos gerais, de fora, revezam-se no atendimento à população, um dia da semana.
     As condições de saneamento são péssimas. O esgoto é a céu aberto, sem canalização ou tratamento. Maria Aneila Silva - cozinheira do prefeito, Manoel Edivan (PMN) - mora numa casa de taipa com a filha Jessicleia. Seu banheiro é um quadradinho cercado de palha de babaçu, no quintal, e o vaso sanitário é um buraco na terra. Chuveiro é luxo. Quem tem energia puxou um "gato" do poste da rua. A água encanada é usada para lavar louça, cozinhar e beber. Poucas casas têm filtro.
     - A situação é essa. A gente fica pelejando para mudar as coisas, mas não é fácil - diz Maria Aneila, que isenta o patrão-prefeito de responsabilidade. - As pessoas ficam condenando ele, mas é um homem bom que tá tentando melhorar a cidade.
     Evandro Rodrigues de Lima, dono de um pau de arara, pode ser considerado um empresário. Gastou R$ 100 mil para ter o caminhão. Ele tem 30 anos e desde os 18 trabalha com pau de arara - antes, era cobrador. Todo dia, faz um percurso de 110 quilômetros, em sete horas. Segundo Evandro, se o trecho fosse asfaltado o percurso levaria três horas. Quando o caminhão atola, os passageiros ajudam, conta ele, que não revela quanto ganha:
     - Mas não sou um marajá de Marajá. Sobrevivo.
     Josafá Alves, um dos mais antigos moradores da cidade, está ciente de que Marajá do Sena sempre aparece nas listas dos piores índices de desenvolvimento. E diz que já foi pior:
- Para levar um doente até a cidade era preciso caminhar dez horas carregando ele numa rede até o rio mais próximo. De lá, ia de voadeira (barco com motor) até a cidade para ser atendido em hospital. Isso recentemente, nos anos 80 e 90.
Hoje há duas ambulâncias. Mas uma estava no conserto.
     Nesse quadro se destaca a Unidade Escolar Teixeira Santos, único colégio da cidade: as instalações são espaçosas e há até sala de computador. São 500 alunos no ensino fundamental, em três turnos. Por causa do acesso difícil, a merenda às vezes não chega. Na última semana, isso ocorreu duas vezes.
     A cidade foi emancipada em 1994. As ruelas têm os nomes de políticos que participaram da sua criação. Ignorada pelo poder público, Marajá só não é esquecida em época de eleições. Com 6.500 eleitores, ela está repleta de cartazes de candidatos que nem aparecem lá. Voto, em Marajá, eles mandam buscar.

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