25 de out. de 2010

Livro relata embate entre Coelho Neto e Lima Barreto no terreiro do futebol

   A Difel acaba de colocar na prateleira o livro "Lima Barreto versus Coelho Neto, Um Fla-Flu Literário", organizado e comentado pelo pesquisador e ensaísta Mauro Rosso. Em suas páginas as crônicas e artigos com que Lima Barreto dardejou sua virulenta e intransigente crítica-repúdio ao futebol, e os textos em que Coelho Neto, ao contrário, só fez cantá-lo em prosa e verso , tendo ao fundo os contextos histórico, cultural e literário nos quais se desenrolaram as pelejas e manifestações intelectuais de um e outro time.
    "Lima Barreto versus Coelho Neto" provoca belas trocas de passes e tabelinhas entre futebol e literatura – que, para quem duvida ou desdenha, existe sim e propicia estimulantes ilações e reflexões de ordem cultural, histórica, política e até filosófica. Desenroladas e desenhadas originariamente nas duas principais cidades do país – Rio de Janeiro e São Paulo –, pioneiras na aceitação e recepção intensas, na implantação e sedimentação, mas também na geração de polêmicas e cotejos retóricos.
    Uma obra que, sobretudo, reitera a persistência do futebol no provocar polêmicas e alegrias, prazer, tristeza, paixões e ódios — nos campos, nos estádios, nos gramados, nas arquibancadas, nos terrenos baldios, nas várzeas, nos estudos e obras de intelectuais, nos corações e mentes de todo o país.
Trecho
“Em anos como os que estão correndo, de uma literatura militante, cheia de preocupações políticas, morais e sociais, a literatura do Sr. Coelho Neto ficou sendo puramente contemplativa, estilizante, sem cogitações outras que não as da arte poética, consagrada no círculo dos grandes burgueses embotados pelo dinheiro. Indo para a Câmara, onde não podia ser poético ao jeito do Sr. Fausto Ferraz, porque o Sr. Neto tem senso comum; onde também não podia ser político à guisa do Sr. Urbano Santos, porque o Sr. Neto tem talento, vergonha e orgulho de si mesmo, do seu honesto trabalho e da grandeza da sua glória; indo para a Câmara, dizia, o grande romancista sem estar saturado dos ideais da época não pôde ser o que um literato deve ser quando logra pisar em tais lugares: um semeador de ideias, um batedor do futuro.
Para os literatos, isto foi uma decepção; para os políticos, ele ficou sendo um qualquer Fulgêncio ou Marcelino. Não é de admirar portanto que um Fulgêncio ou um Marcelino tenham eles escolhido para substituí-lo. Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele.”
(p.37-38 - Lima Barreto, em Lanterna, 18/01/1918)
Comentários sobre o livro
“O livro de Mauro Rosso não é apenas uma tese, mesmo que tenha nascido como tal. É um estudo sério para ser lido e apreciado tanto por quem gosta de um bom romance como por aquele que vai ao estádio todo domingo. Cobre o período pré-vitória brasileiro em canchas da Suécia. Na verdade, precede em anos os dias em que o brasileiro, com todo desfalque de Leônidas, viu-se no direito de sonhar com a Copa do Mundo.” (João Máximo)
“Enfim, Coelho Neto estava mais para João Havelange (noves fora os pendores literários) e Lima Barreto para João Saldanha (noves fora a paixão de Saldanha pelo futebol, reflexo do seu conhecimento da alma nacional).” (Juca Kfouri)

Livro
Lima Barreto versus Coelho Neto, Um Fla-Flu Literário
Mauro Rosso
Difel – selo editorial da Bertrand Brasil
240 páginas
Preço: R$ 39,00

1 comentários:

JT disse...

Se esse Fla-Flu fosse literal - e não literário -, o Fluminense teria ganho por W.O., pois só ele foi representado na disputa.
A principal virtude e limitação do livro é o autor ser, sem dúvida, um grande especialista em Lima Barreto. A "atuação" de Coelho Netto fica tão prejudicada, que sequer conta com uma bilbiografia sua ou a seu respeito.
Em suma, um jogão apitado por um juiz "caseiro".

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