18 de nov. de 2010

IV Feira do Livro de São Luís: Feira Minguante

 Jomar Moraes
    Em princípio, por via de condicionamento idiossincrático, todo e qualquer evento relacionado com a valorização do livro, com sua difusão e conseqüente incentivo à leitura, conta com o mais entusiástico apoio de minha parte.
    Grande parte de minha vida consagrei-a aos livros, fervorosa e devocionalmente, na incansável faina de adquiri-los, guardá-los, lê-los e editá-los ou reeditá-los em quantidade que de longe ultrapassa uma centena de títulos. Muito de propósito deixei para referir secundariamente em relação a meu trabalho de editor, o de autor, que é modesto, porém digno, razão por que tenho dele justo orgulho.
    Em suma, como a princípio disse, propendo a entusiasmar-me vivamente com quaisquer iniciativas que tenham por fim a promoção do livro, esse agente civilizador por excelência que presentemente enfrenta adversidades advindas do galopante desenvolvimento tecnológico que já golpeou severamente os jornais e revistas, quer impondo-lhes a extinção pura e simples, quer deteminando-lhes o progressivo definhamento no plano físico e sobretudo no que respeita às tiragens, que são proporcionalmente cada vez menores.
    Basta, para de tal assertiva ter plena certeza, tomar as maiores tiragens alcançadas pelo extinta revista "O Cruzeiro", correlacioná-las com a população brasileira da época, levando também em conta os índices de alfabetização, e fazer operações idênticas não somente com a maior, mas com as três maiores revistas semanais da hoje somadas. Dúvidas não haja de que o resultado é bastante expressivo da tendência decrescente de leitores que se utilizam dos suportes tradicionais de leitura.
    E o mesmo cabe dizer quanto ao livro, a despeito da alentadora e oportuna advertência de Umberto Eco, em longa entrevista que virou o livro intitulado "Não contem com o fim dos livros". Ainda bem, apesar de no Brasil continuarmos tendo edições nacionais como tiragem de 3.000 exemplares, e de continuar sendo considerada tiragem grande a de 5 mil e mais exemplares, neste país de 190 milhões de habitantes.
    Todas essas coisas julguei necessário dizer, antes de chegar ao principal assunto de hoje, que é Feira do Livro de São Luis, cuja quarta edição transcorre no período de 12 a 21 do corrente. Lamentavelmente estamos diante de uma feira minguante, como a chamei no título. Quem compara essa quarta edição com sua primeira congênere, e tem parâmetos para acompanhá-la desde o início até hoje, percebe claramente que tão benemérito evento vem definhando ano após ano, para tristeza de todos quantos amam a boa causa do livro e da leitura, neste terra que , se no passado mereceu o titulo de Atenas brasileira, atualmente o desmerece por todos os títulos. Faz já algum tempo que fomos rebaixados à mera condição de “apenas”, e olhe lá!
    Em matéria de feira do livro, por exemplo, fazem vergonha a quem a tiver, obviamente, o Salão do Livro de Teresina, que a despeito da modesta denominação, supera, de longe, a nossa cada vez menor feirinha. E o mesmo acontece com a feira do livro de Imperatriz, inegavelmente superior à nossa, que este ano, a bem dizer, nem mídia teve, fato que em parte explica o decepcionante comparecimento do público, a julgar pelos primeiros três dias.
    Dificuldades, sei que as há, e até imagino que são muitas. Mas, para tomar a ombros as grandes responsabilidades da realização de um evento como é ou melhor – como deve minimamente ser uma feira do livro de São Luís, imperativo é adotar todas as providências para que ela aconteça com as condições indispensáveis,
    Do contrário, que se dê à Feira a categoria de bienal, como acontece em megalópoles como Rio de Janeiro e São Paulo.
    Aqui, se novos rumos não forem traçados para a Feira do Livro, estaremos no caminho de sua breve e sofrida extinção, resultado natural do processo de estiolamento que vem sofrendo.
Lamento profundamente que este ano não tenha as palavras que tive reiteradamente em relação às edições passadas da Feira, pois até o livreto com a Programação do evento é algo de que se pode afirmar que e bonitinho, mas ordinário, em razão dos erros e descuidos de revisão de que está inçado.
    Mas em busca de louvar a Feira, que é, em si mesma, acontecimento altamente meritório e digno dos maiores encômios, louvo-a por haver sido consagrada ao querido confrade José Louzeiro, e também a louvo especificamente por dois de seus espaços: o Auditório Maria Aragão, que fica defronte da Praça Rosa Mochel. Comovi-me pela evocação pública, em sinal de homenagem, a essas duas grandes mulheres maranhenses que muito e para sempre admiro, e que me honraram com sua carinhosa amizade.
    E por aqui fica esta minguada croniqueta.
De O Estado do Maranhão

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