17 de nov. de 2010

Senador aliado de Sarney é acusado de comprar testemunha no processo que cassou Capiberibe

LUCAS FERRAZ
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
    Um ex-funcionário de uma TV da família do senador Gilvam Borges (PMDB-AP) acusa o político de ter comprado três testemunhas no processo que cassou os mandatos do casal João e Janete Capiberibe, ambos do PSB.
    O ex-governador do Amapá e sua mulher foram cassados por compra de votos nas eleições de 2002, quando se elegeram senador e deputada federal, respectivamente.
    Borges, principal aliado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no Amapá, nega a acusação.
    Em dois depoimentos de julho, um registrado em cartório, em Macapá (AP), e outro prestado na condição de informante ao Ministério Público Federal do Amapá, o ex-funcionário Roberval Araújo contou ter sido procurado por Gilvam Borges para realizar uma operação intitulada "Cavalo Doido".
    Localizado pela Folha na última quinta-feira, por telefone, Araújo confirmou ter prestado os depoimentos.
NEGOCIAÇÃO
    Nos dois documentos obtidos pela reportagem, ele diz que o senador Borges o procurou dias depois das eleições de 2002, perguntando quanto ele queria "para arranjar três testemunhas para depor contra" os Capiberibe.
    "[Borges] autorizou a negociar com as testemunhas, podendo oferecer casa, dinheiro, carro, o que fosse necessário", declarou Araújo.
    Araújo, que trabalhou na TV Tucuju, de Macapá, como cinegrafista e motorista, disse que "negociou o depoimento" das testemunhas do processo de cassação do casal Capiberibe. As testemunhas disseram à Justiça ter recebido R$ 26 pelos votos.
    "Fui autorizado a prometer uma casa para cada testemunha. A promessa consistia em comprar casas após o testemunho no TRE", afirmou Araújo na declaração registrada em cartório.
    Após encontrar as três pessoas dispostas a dar os testemunhos, Araújo levou-as a um cartório e lá registrou as acusações. Ele disse que os depoimentos foram conduzidos por uma advogada.
    Do cartório, as testemunhas foram levadas a uma casa na periferia de Macapá, onde teriam ficado "guardadas" por 30 dias, até a data do depoimento que precisaram dar à Justiça Eleitoral.
    O dinheiro para comprar as testemunhas, disse Araújo, foi repassado por um irmão de Gilvam Borges.
    O ex-funcionário da TV disse ainda ter comprado as três casas para o trio. Elas teriam revendido os imóveis, depois, e retornado ao seu bairro de origem, quando teriam passado a receber R$ 2.000 mensais.
FICHA LIMPA
    Após a cassação pelo TSE, João e Janete Capiberibe perderam seus mandatos no Senado e na Câmara em 2005 e 2006, respectivamente.
    Em 2010, os dois se candidataram novamente e tiveram votos suficientes para serem eleitos. Mas, como estão enquadrados na Lei da Ficha Limpa por conta da cassação, não assumiram. O casal tenta reaver os cargos.
    O filho deles, Camilo, foi eleito governador do Amapá.
    Para a defesa, mesmo se os depoimentos de fato foram "comprados", como diz o ex-funcionário, seria "tecnicamente impossível" reverter a cassação, já que na Justiça Eleitoral não cabe ação rescisória. Só caberia se eles fossem condenados a inelegibilidade, o que não ocorreu.
Da Folha de S. Paulo

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