27 de out. de 2010

29ª Bienal de São Paulo mostra que é possível separar arte e política


Obra do Terreiro "A pele do invisível"
     "Meu filho, isso é mais estranho que o cu da jia. E muito mais feio que um hipopótamo insone". É a "Bienal", canção de Zeca Baleiro. A 29ª Bienal de São Paulo não remete com precisão à letra da composição do maranhense.
    A versão deste ano da bienal está assentada na impossibilidade da separação entre arte e política. Em Sobre arte e política, Max e Engels teorizam que as ideias não levam além do antigo estado de ideias. E só. Na prática a bienal comprova o pensamento dos teóricos da dialética materialista.
  Há estranhezas óbvias, mas, de certa forma, a arte está mais explícita em seu sentido tradicional nesta versão da bienal. À exceção de Nuno Ramos, o artista que levou urubus para agourar o maior evento de artes plásticas da América Latina, não há fissuras radicais de parâmetros estéticos nesta bienal.
Fotografia no Terreiro "Eu Sou a Rua"
   




    Afora o debate sobre as obras, Nuno Ramos, autor da obra “Bandeira Branca” (a dos urubus que acabou envolvendo a justiça e fagulhou debates), inocola veneno na veia das leis de incentivo à cultura e da política. Sobretudo a Lei Rounet, que, segundo ele, contribui sobremaneira para o sucesso de instituições como Santander, Oi e outras de capital importância para o projeto do Brasil desenvolvimentista.
    “Devo muito a elas, mas é uma pena que instituições como o Masp e a Bienal tenham ficado à míngua. Estão um pouco melhor agora. O único modo de as obras aparecerem é tornando fortes as instituições. No Brasil, você prova que o Sarney é corrupto e ele sai ileso. Há um descolamento entre a consciência pública e a realidade institucional, que é nova. Talvez a política mais rica hoje seja mesmo a reconstituição das instituições", teoriza o artista.

Entrada do Terreiro "O outro, o mesmo"
     Nos terreiros, espaços divisórios da grande exposição do Parque Ibirapuera, não há confrontos que levem além do confronto. Nem mesmo Kboco, o artista que teve a obra pixada este ano, quebra paradigmas fora do espaço delimitado do evento.
    ”Há sempre um copo de mar para um homem navegar”, verseja Jorge de Lima em “Invenção de Orfeu”, poeta e poema inspiradores da 29ª Bienal de São Paulo. Mais além do pensamento poético está o pragmatismo da curadoria da Fundação Bienal , um organismo que tem como conselheiro de honra o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira.
    Ex-dirigente do Banco Santos, fraudulentamente falido, Ferreira está preso por crime contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro, crime organizado e formação de quadrilha. Colecionador de artes, amigo da escritora e ativista Pagu (Patrícia Galvão) e do maldito autor de teatro Plínio Marcos, ambos falecidos, e do presidente do Senado José Sarney, Cid Ferreira está condenado a 21 anos de prisão. Na impossibilidade de separar política e arte, o ex-banqueiro permanece honrosamente no conselho da Bienal.


Portão do pavilhão Ciccilio Matarazzo
 
    É possível que aí resida o poder da arte de sanear a política. Isso a 29ª Bienal quer provar. Não consegue, porém. Desde o portão de entrada se comprova o descompasso entre querer e poder.
    Num domingo de sol e calor no Parque do Ibirapuera, a indiferença do público aos acordes de uma sanfona cafona até a alma, tocada por um artista de rua, talvez seja pela expectativa do que virá após o baculejo nas bolsas e sacolas do visitantes. Afinal, novamente, com exceção de Kboco, dentro  do pavilhão fervilha a arte. Impossível seria separar arte e política. Não é o que ocorre na realidade.
    Na visita à 29ª Bienal ainda é possível flagrar a arte em suas multiformas contemporâneas. Embora as imagens digitais na tela do computador jamais provoquem a sensação do olhar, em tempos de interatividade online eis aí o possível. No mais, em tempos de assertivas  correto é afirmar que a cultura é regra, enquanto que arte é exceção, até mesmo na Bienal.Quanto a política, não há regras, muito menos exceção. Tudo é possível.

1 comentários:

Anônimo disse...

essa é a melhor bienal de todos os tempos

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