1 de jun. de 2011

Sarney quer que o povo esqueça o impeachment

Fernanda Dennemann
Os caras-pintadas, quem diria, foram varridos para debaixo do tapete do Senado Federal, e o próprio presidente da Casa, o sr. José Sarney, ajudou com a vassoura, ao dizer que o Impeachment de Fernando Collor foi um “acidente”. Mas depois da repercussão, na imprensa, sobre a retirada do painel que trata da saída de Fernando Collor do Planalto, da exposição permanente do Túnel do Tempo, no Senado, José Sarney voltou atrás e solicitou a recolocação da peça em seu devido lugar.
    Mas como é que um movimento que levou milhões de pessoas às ruas e derrubou um presidente pode ser chamado de “acidente”? Seria piada, descaso ou desrespeito do ilustre sr. com a força e a vontade do povo? Ou, simplesmente, o hábito (que já pode ter virado vício) que os políticos brasileiros têm de manipular a memória do povo?
    Sim, sabemos que Collor jamais teria saído do Planalto se a Rede Globo, que o colocou no poder, não tivesse se envergonhado e, por isso, decidido tirá-lo de lá; mas seus jornalistas não fizeram isso sozinhos, haja vista que tentaram, também, acabar com o governo Lula e impedir que Dilma Rousseff chegasse à presidência... e suas tentativas foram vãs. Faltaram os caras-pintadas, afinal...
    Mas o que eu quero saber é o seguinte: como é que a aprovação do impeachment de Fernando Collor foi cortada da exposição, que pretende contar os mais importantes acontecimentos ocorridos na Casa, desde 1822? Então o setor responsável pelas obras de revitalização dos painéis acredita que não há relevância no fato de um presidente acusado de corrupção ser forçado, pela pressão popular, a abandonar o poder?
    As palavras do sr. José Sarney não me surpreendem, vindas de quem vêm, um político que se elegeu pela primeira vez prometendo lutar por seu estado pobre e que, 50 anos depois, riquíssimo, segue com seu estado paupérrimo: o Maranhão não conta, sequer, com rede de esgoto para a grande maioria da população que vive na capital turística cantada em prosa e verso (de péssima qualidade, aliás) de alguns escritores nascidos por lá.
    Se chega a ser constrangedor que o presidente do Senado não considere “marcante” um evento desse porte, chega a ser uma vergonha que um ex-presidente da República __que se diz democrata __ desvalorize a tal ponto um levante popular como aquele, que não só mudou os rumos do país, mas mostrou ao povo que o poder está de fato em suas mãos.
    A lembrança do movimento dos caras-pintadas enche de orgulho o coração de quem viveu aquela época, e deveria ganhar lugar de destaque justamente para que o povo jamais se esquecesse com quantos brasileiros se faz uma revolução.
Ou será que é isso mesmo que o Senado quer que a gente esqueça?
Do blog Alma Lavada do Jornal do Brasil

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