15 de set. de 2010

A peleja dos urubus


Zé Borduna*

Ê seu Zé
diz aí como é que é

Vai começar a peleja
dos urubus na carniça
até aparecer o osso
vão disputar suas vísceras
no país do carnaval
na campanha eleitoral
um sete um é a missa

Trabalhador da cidade
trabalhador rural
trabalhador de carteira
trabalhador informal
dona de casa, estudante,
pequeno comerciante,
desempregado afinal

Não tem arrependimento
numa eleição bizarra
é só lembrar da ressaca
logo bem antes da farra
preste bastante atenção
teu voto não tem patrão
e baião não é fanfarra

Existe candidato
de toda cor e quilate
tem candidato marrom
tem candidato mascate
no bom português não erro
tem até testa de ferro
vendendo seu disparate

Ele diz que se for eleito
acaba com a roubalheira
logo depois de empossado
ele senta cadeira
no dinheiro mete a mão
faz acordo com o cão
vira sócio de empreeiteira

É cadidato suspeito
que faz discurso  moderno
logo depois de eleito
ele se enfia num terno
da tribuna estufa o peito
com cara de satisfeito
manda o povo pro inferno

Enquanto aqui se suporta
toda essa porcaria
o bicho lá no congresso
na mordomia não chia
aumenta o próprio salário
e com o dinheiro dos otários
tem auxílio moradia

Aqui quem planta não colhe
quando colhe não consome
senta mesa é luxo
mas quem não senta tem fome
quem trabalha não tem nada
vive e morre na calçada
quem não semeia tem nomeia

Sufrágio não é naufrágio
não afunde nesse drama
tenha clara consciência
é teu voto quem proclama
vamos virar esse jogo
entre no cordel de fogo
vamos acender a chama

Aqui ladrão de galinha
é preso imediato
já o ladrão de gravata
foge de avião a jato
suborda dignidade
compra sua impunidade
na sombra do peculato

No blá blá blá já surrado
do candidato patranha
se vê no indiciado
a deslavada artimanha
cidadão não seja pato
atente para esse fato
é lambança de campanha

Iludido e já cansado
com o sermão da igreja
o povo não faz novena
nem diz mais louvado seja
na prevaricação noturna
o capeta emprenha a urna
até que o  diabo se eleja

Eu não frequento igreja
em santo não levo fé
finco meu na peleja
escumungo lucifer
o medo não me almeja
não sou refém de nbandeja
não tomo chá de colher

O mundo está pelo avesso
veja o susto que levei
um enorme pesadelo
estava dormindo acordei
era o sobrenatural
no Congresso Nacional
bandido fazendo lei

O Brasil está doente
o cego enxerga e não
a cegueira social
mata mais que hiv
não tem cura esse mal
na fila do hospital
se escolhe quem vai morrer

Não tem santo que dê jeito
no pleito do malifício
enquanto tiver bandido
fazendo disso um ofício
eleição é palavrão
uma enorme indigestão
grande fábrica de vício

Minha gente tá cansada
no escuro sem horizonte
de ouvir conversa fiada
dormir debaixo da ponte
viaduto sem endereço
escola sem giz ou texto
a vida é quem dita a fome

Minha curosidade
foi além do que refuto
fui ver no dicionário
o que é propinoduto
o bicho tem chifre e rabo
corrompe deus e o diabo
e deixa a nação de luto.

* Zé Borduna é heterônimo do poeta maranhense Paulinho Lopes

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