23 de abr. de 2011

Reflexões para os 400 anos de São Luís I - historiadores e historiografia

Ananias Martins
    400 anos é uma datação da era humana que propicia muitos registros para os historiadores lapidarem. Cada povo de um lugar pode ter inúmeras abordagens e versões. Se for uma cidade, além de tudo, ressuscita temáticas como marcos iniciais e intermediários, e também transformações estruturais.
    Como em muitos locais do mundo, em São Luís há um movimento de debate sobre fundação e desenvolvimento da cidade, iniciado recentemente. Há disponível uma pequena biblioteca da literatura histórica sobre o assunto, antiga e contemporânea, ou historiografia.
    Os autores desta biblioteca, historiadores de profissão ou diletantes, pertenceram ou serviram, em cada tempo, a interesses específicos. São como a história, datados. Uma abordagem da cidade feita no século XIX por um membro da elite imperial provavelmente vem carregada de conceitos e preconceitos, de contextos. A rigor, dificilmente se encontrará, quanto mais distante no tempo histórico de nossa sociedade, um escrito que não seja de elite, pois poucos tinham acesso à escrita e à leitura.
    Hoje, a história mais acessível e suas novas abordagens sobre a cidade trazem outras construções, culturalmente das novas gerações. Revisam-se documentos estudados, se encontra novas fontes não escritas, se procura outras classes e categorias sociais, entram os não privilegiados, e se refuta velhos escritos de historiadores e a história dominante de antes. Ainda assim, ao usar os antigos escritores, para em seguida contrapô-los, se credencia uma historiografia, como resultado de seu tempo.
    Conservação e mudança é uma lei da qual não se foge, ou a história não seria eterna enquanto disciplina, que se renovará. E a cidade de São Luís não fugirá desta lógica, sendo demolida e reconstruída, diluída ou reagrupada em novas fronteiras, dentro da literatura histórica. Hoje há quem desconstrua a idéia de fundação no período francês.
    De forma geral, cidades e países são fundados com “lugares do futuro” e não com a visão construída no passado. De um ponto qualquer onde estavam os pensadores da história estabeleceu-se o que foi a história anterior. Resumindo, são os chamados historiadores culpados da história de marcos fundadores existirem, mais que isso.
    Se os quatro cantos da cidade disserem que comemorarão 400 anos da fundação de São Luís no ano de 2012, favorece a perpetuação de um mito antigo e a consagração dele, pois quatrocentos anos atrás não havia a cidade que conhecemos, mais certeiramente, nem havia cidade aqui. Há, porém, uma data na historiografia da fundação da cidade, 8 de setembro de 1612, de uma precisão inabalável, como se a urbes fora planejada, implantada e inaugurada.
    A data referida de 1612 era, naquele momento, apenas um evento que compunha um conjunto de eventos que ocorreram no início do século XVII, na disputa por territórios nas Américas entre os europeus, no caso, um ritual católico dos franceses. Historiadores questionam se os franceses fizeram parte da fundação de São Luís, outros se há uma fundação definida.
    Na botânica diferenciamos semente de árvore, apesar de a primeira gerar a segunda, ou não haver árvore que não tenha sido semente. Em termos mundiais, não há instituição geopolítica que não tenha ou não aceite um marco fundador, como se fora a “semente originária”; seja como o mito de Rômulo e Remo, seja por um decreto frio de gabinete sobre um território vazio, e outras diversas formas de fundação. No caso de São Luís, foram algumas décadas de construção historiográfica, fundamentada em documentos e interpretações não isentas de interesses, perpetuada para o cotidiano em discursos, aulas, publicações diversas, nomes de prédios, toponímia da cidade.
    Vieses para a fundamentação histórica do marco inicial datado, conhecido atualmente, é o que não falta, dependendo da leitura interpretativa.
    Escolha um terreno e plante uma semente: Imagine-se entrando em um grande mar oceânico, chegando numa vastidão de terras que gostaria de dominar, habitadas por diversos nativos, inóspitos ao projeto de conquista, e, ainda, o fato daquelas terras estarem sob o julgo de outra nação bélica, formalizado pelo Papa. Você percorre a vastidão, ancora em vários pontos, penínsulas, ilhas, cabos e finalmente escolhe um, onde vai ser o seu quartel general, ponto de apoio e construção do forte, por razões geopolíticas da época. Quatrocentos anos depois aquele lugar será resultado de algo que você plantou, mas não chegou a ver o que se tornaria. Sucessivos acontecimentos consolidam a sua escolha, se aproveitam de sua primeira estrutura e naquele lugar surge uma pequena cidade, 400 anos depois, a São Luís de hoje.
    Esta versão, em forma simplificada de ocorrência histórica, lança São Luís nos quatrocentos anos de fundação. Prioriza o território escolhido e ocupado, o “marco inicial” ; condensa o “vir a ser” ao “ido”, num movimento quase anti-horário. Como Cronos (deus grego do tempo) que engole seus filhos, depois que nascem, num sentido horário. A história de uma ocorrência pretende engolir todos os pedacinhos que a criou, na ganância de ser abrangente. Contrapor-se a uma de suas versões é dar mais filhos para serem engolidos e confirmar um lugar de debate como legítimo.
    Se a história desejar regredir mais, para definir a cidade a partir da ocupação nativa, dos tupinambás, se complica. O conceito de cidade ou burgo, tal como foi desenvolvido, é implantado pelas conquistas européias na América. Somente a conquista européia do território poderia lançar qualquer pilar para isso.
    A fundação de uma cidade antiga no Brasil é quase sempre uma construção, que pode ter como referência uma feitoria, uma fazenda, um forte. Razão pela qual prefiro a São Luís quatro centenária, construída com sua data de fundação precisa, em um calendário também de construção datada, feito para o universo cristão ocidental.
    De outro modo, é bom para história engajada nas discussões sociais que haja datas de mobilização da reflexão coletiva. Assim foi para os quinhentos anos do Brasil, onde todos se envolverem, mesmo os historiadores que não aceitam a chegada de Cabral como marco. Com esse argumento refletiu-se sobre que Brasil é este que construímos, e o que ele poderá ser no futuro. Foi além, mergulhando no pré-quinhentos, na história dos nativos, habitantes mais antigos, suas culturas e lutas hoje.
    Se a Roma da loba mítica de 753 a.C. é ensinada ainda hoje às crianças das periferias da cidade nos livros didáticos, que São Luís tenha os seus longos anos igualmente registrados nos livros de história, sejam quais forem as versões historiográficas. Não se pode é ficar sem o registro, debate e principalmente popularização deste conhecimento de nossa civilização.
    Quanto aos historiadores, é preciso questionar o ambiente ufano que muitos escritos tentam produzir sobre a cidade. Ela é construída somando lutas de incluídos contra excluídos e o inverso, de fratricídios, da higenização social das ruas pelas elites em diversos momentos, disputas territoriais, com desapropriações e ocupações, corrupção de dirigentes e diversos males urbanos. Mas foi e é lugar de abrigo, em ruas, feiras e espaços coletivos; referência e norteamento do citadino, identidade, lugar de construção de culturas.
    Por sua vez, o leitor da história da cidade (e outras) não deve lhe atribuir somente beleza, nostalgia, epopéia, estética literária e narrativa fantástica de coisas do passado. O escrito da história da cidade às vezes é duro, trás crueldades cometidas, escravidões e pode ser cansativo. Entretanto, é uma das literaturas mais instrutivas da humanidade, estratégica na formação do cidadão e de grande valor para a erudição. Lembre-se que os historiadores da cidade, por mais que sejam culturalmente globais, são reféns do seu mundo, através de suas escritas, de suas teses e livros.
Ananias Martins é historiador. ananiasmartins@uol.com.br

4 comentários:

FELINTO RIBEIRO disse...

Meu estimado amigo e confrade

Ao ler o seu trabalho inolvidável a respeito da fundação da cidade de São Luís, de inicio declaro que foi um trabalho sublime, sinto-me incapaz de fazer algum reparo nesta obra de tamanho porte. Os meus conhecimentos histórico a respeito de São Luís, são frágeis para produzir uma narrativa de tamanha abrangência, que comprova um profundo conhecimento de um historiador que escreve como erudição e civismo. As cidades dos idos de 1600 foi criadas obedecendo interesses econômicos e religiosos. Para ilustrarmos a nossa afirmativa, os franceses que foram os fundadores da cidade de São Luís aqui chegaram em decorrência de conflitos religiosos em que a noite de São Bartolomeu que foi a execução empedernida dos protestantes em Paris. Massacre de huguenotes na madrugada de 23 para 24 de agosto de 1572, durante as comemorações de são Bartolomeu. Executado por ordem de Carlos IX por influência de sua mãe, Catarina de Medici, estendeu-se por vários dias e resultou na morte de cerca de 20 mil protestantes em toda a França. Um dos episódios mais dramáticos das guerras religiosas entre católicos e protestantes.
O Duque de Alba que era um almirante Frances protestante de grande influência na frança conseguiu que imigrantes franceses viessem para São Luís e aqui instalar a França Equinocial, denominação dada ao estabelecimento de uma colônia francesa no Maranhão, após a derrota no Rio de Janeiro no século XVI.

FELINTO RIBEIRO disse...

PARTE II

Os conflitos religiosos provocaram muitos episódios sangrentos, Inácio de Loiola em 1500 dc, com o seu tribunal do santo oficio que eliminava os judeus acusados de heresia, provocou a emigração de Judeus para a maioria dos países protestantes, Holanda, Alemanha, Inglaterra e assim sucessivamente, o deslocamento judaico para estes países, foi alvissareiro porque levaram o seu dinheiro e lá fizeram grandes investimentos, a Holanda um pequeno país que é considerado um dos mais ricos do mundo porque lá se instalou uma grande colônia judaica, a cidade de Alexandria, no Egito fundado por Alexandro o Grande 332 ac, foi um evento de natureza política e econômica, o acampamento do exercito de Alexandre foi em território que depois se transformou na grande cidade de Alexandria. No Brasil não foi diferente, a cidade de Belém-Pará, foi fundada com o objetivo de defender a região amazônica contra invasores estrangeiros, em 12 de janeiro de 1616 por Francisco Caldeira de Castelo Branco, que ali construiu um forte, a que denominou Presépio. A sua volta, surgiu um núcleo de povoamento, conhecido como Feliz Lusitânia, mais tarde Nossa Senhora de Belém do Pará e posteriormente Santa Maria de Belém do Grão-Pará.
O forte de Belém que muitos historiadores omitem existia grande afluência de contrabando comandados pelos jesuítas na Amazônia para Europa, pele de animais raros e grandes riquezas dos amazonas eram conduzidos pelos prelados seguidores de Inácio de Loiola, os jesuítas criaram uma grande empresa de exploração de trabalho escravo, minérios e contrabando de pele de animais raros e outros produtos da Ileia brasileira para Europa com objetivo financeiro, o forte foi crescendo e depois se transformou em cidade, São Luís foi fator religioso provocado pela invasão francesa.
Holandeses, por essa época esteve preso no Maranhão o aventureiro Gedeon Morris, que depois seria comandante da guarnição flamenga do Ceará. As notícias por ele transmitidas sobre as condições de vida em São Luís, segundo seu entender mal defendida pelos lusitanos, foram ouvidas com interesse pelos dominadores do Recife. A paz entre Portugal e Holanda estava firmada quando em novembro de 1641 uma frota holandesa, comandada por Pieter Baas, entrou pela barra de São Luís, desceu pelo Desterro e saqueou a cidade. O governador Bento Maciel Parente, veterano do sertão e matador de índios, foi preso sem resistência.

FELINTO RIBEIRO disse...

PARTE III

Dez meses depois, os lavradores portugueses, em conspiração com os jesuítas e ajudados por mamelucos e índios fiéis, se levantaram contra a dominação holandesa. Antônio Muniz Barreiros, que chefiava a revolta, morreu em combate e foi substituído por outro senhor de engenho, Antônio Teixeira de Melo. O outeiro da Cruz, naquele tempo fora das portas da cidade, foi cenário dos encontros mais cruéis. Os holandeses saquearam os moradores que ainda permaneciam no pequeno burgo, lançaram-lhe as mulheres nuas no mato e entregaram os homens aos índios do Ceará, que os sacrificaram ou mandaram como escravos aos ingleses de Barbados, que se recusaram a comprá-los.
Em Tapuitapera, hoje Alcântara, no continente, Teixeira de Melo recebeu emissários do príncipe Maurício de Nassau, que lhe ofereceu o governo dos portugueses do Maranhão, desde que se recolhesse a São Luís. Recusada a proposta, a luta prosseguiu até fevereiro de 1644, quando os holandeses se retiraram após um período de 27 meses de ocupação intranqüila, dos quais 17 de lutas.
Restou dos holandeses a ruína do casarão onde morou o governador Pieter Baas, derrubado em 1939. A vista do porto e a planta da cidade foram registradas por Frans Post em desenhos cujos originais se encontram no Museu Britânico. As gravuras foram reproduzidas no grande livro de Gaspar Barlaeus sobre o Brasil holandês e copiadas depois para a obra de Santa Teresa sobre as guerras de Portugal com a Holanda.
Os holandeses aqui chegaram por interesses econômicos, a Companhia das Índias Ocidentais (Países Baixos), foi uma organização fundada em 1621, com capital fornecido pelos Estados Gerais dos Países Baixos, destinada ao tráfico de escravos, à fundação de colônias e ao comércio. Os Judeus capitalistas se deslocaram para a Bahia, Pernambuco com as conquistas Holandesas ele se encontravam em grande parte estabelecidos na Bahia e em Pernambuco e forneceram segredos militares e ajuda para os invasores holandeses. Portugal de 1580 a 1640 foi governado pela Espanha e nesta circunstâncias perdeu a sua soberania e a conquista da soberania portuguesa foi fruto de empréstimo da Holanda e da Inglaterra, os interesses pelo açúcar no Brasil, motivou a conquista Holandesa, não podemos de sã consciência fazermos um juízo aprimorado se a colonização Holandesa Francesa ou Portuguesa qual das 03 seria a melhor para o Brasil. O país colonizador não deixa o país colonizado progredir foi o caso da colonização britânica cerca de 300 anos na Índia deixou um país miserável.
A atual republica Suriname era a antiga Guiana Holandesa e que hoje é um país soberano, nestas circunstâncias qualquer um país colonizador não traz proveito para um país colonizado, o país colonizador, serve apenas para sugar os recursos dos países colonizados. A áfrica portuguesa conquistou a sua soberania com bastante sofrimento e derramamento de sangue. O Maranhão enfrentou varias tragédias e sempre defendendo o colonialismo português, os Holandeses foram os financiadores dos lideres portugueses na conquista da soberania portuguesa, após 60 anos de domínio espanhol de 1580 a 1640, a Inglaterra também financiou a guerra da soberania portuguesa, o tratado comercial entre a Holanda e Portugal determina que todo o transporte das colônias portuguesas para Europa ou qualquer país do mundo teria que ser executado por navios holandeses e aí senhores esta o interesse econômico dos holandeses no Maranhão, o açúcar naquele tempo o Maranhão era um grande pólo produtor de açúcar.
Meu caro confrade Ananias Martins apenas fiz uma ligeira apreciação a respeito da fundação de São Luís, peço as minhas desculpas por não dispor no momento de uma pesquisa profunda para atender os anseios do comentário que o historiado de ilibada reputação, solicitou.

Ao vosso aguarde, subscrevo-me.

FELINTO RIBEIRO

CJ-FT-CE disse...

Ilustre Sr. Escritor Ananias

Com a maestria de sua escrita que foi escrito sobre os 400 anos de nossa linda Sant Louis, lhe peço que descreva mais detalhes desta Ilha rebelde que teve agora a poucos dias mostrado-se não rebelde, sabe nos dizer porque? O caos toma conta de São Luís e do Maranhão com os nossos governantes. Vir aqui postar por pedido do inovildavel Felinto Ribeiro que o acompanho e venho para lhe pedir que descreva a parte politica destes 400 anos da Ilha do Amor, Ilha Rebelde, Ilha do Reggae e outros nomitos mas descrito para esta cidade....

Carmem Julieta - Fortaleza - CE

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